Entrevista Maersk: Temos a capacidade que precisamos para crescer no mercado português

Entrevista Maersk: Temos a capacidade que precisamos para crescer no mercado português

Há dois anos há frente dos destinos da Maersk Portugal, Alessandro Maldina fala das apostas do maior armador mundial no nosso país, que envolvem as ex-colónias, da competitividade dos portos portugueses e do potencial do canal do Panamá. Para competir com Espanha, os portos portugueses precisam de praticar custos baixos e dispor de infraestruturas ferroviárias, defende.

Que serviços a Maersk Portugal disponibiliza atualmente, envolvendo portos portugueses?

Temos três serviços em Portugal envolvendo os portos de Lisboa e Leixões, aqueles em que temos maior interesse em Portugal. Daqui fazemos a ligação a Algeciras, onde temos o nosso maior hub internacional na Europa, a partir do qual temos ligações a todo o mundo. Um dos nossos serviços, a que chamamos Z01 ou BG Freight, liga semanalmente Algeciras – Lisboa – Leixões. Não é um serviço próprio da Maersk, mas um feeder disponibilizado pelo operador norte europeu BG Freight, de que nós ocupamos mais de 98% do espaço total. Com o aumento das exportações portuguesas optámos por aumentar a capacidade do navio e eliminar ligações ao Norte de Espanha, em Vigo e Bilbau, o que nos permitiu aumentar a frequência e a rotação do serviço. Hoje garantimos a Portugal um serviço com boa capacidade e muito fiável. Outro serviço da Maersk em Portugal é dedicado a Angola. É um serviço semanal, com uma capacidade similar ao anterior, e cobre Algeciras – Leixões – Lisboa. O navio para em Algeciras, para a carga de transhipment, e depois segue para Luanda. Temos um terceiro serviço, bissemanal e com a mesma capacidade, que cobre Lisboa-Leixões-Algeciras e Cabo Verde (Praia e Mindelo) e Guiné-Bissau.

Que evolução observa nestes serviços e quais as cargas onde se regista maior procura?

Na exportação, temos as cargas típicas europeias, como o scrap para ser reciclado (papel, plástico e metal) com destino ao Extremo Oriente, a par de cargas mais específicas, como a cortiça ou o papel. Para Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau temos o tráfego típico da África Ocidental: produtos alimentares, cerveja e material de construção. Na importação temos sobretudo produtos acabados oriundos do Extremo Oriente e da Índia. Desde há três meses notamos que a carga para a África Ocidental, e sobretudo para Angola, que é o nosso principal mercado neste tráfego, está a diminuir. Pelo que sabemos, esta redução está relacionada com uma inspeção adicional para toda a carga refrigerada imposta pelo governo angolano, que complica o processo. Por outro lado, o despacho da carga normal está a sofrer maior demora que no ano passado, o que está a prejudicar os exportadores portugueses, que tendem a focar-se noutros mercados. Por sua vez, Cabo Verde não está a crescer e prevemos que diminua um pouco, devido às limitações de capital do principal parceiro, Portugal. Já a Guiné Bissau não é um mercado maduro e é muito difícil de trabalhar, pois existem muitos desafios operacionais. Temos aqui um tráfego que está a manter-se, ainda que sem a dimensão de Cabo Verde e muito menos de Angola.

Quando uma empresa como a Maersk olha para Portugal, o maior interesse é a ligação às antigas colónias portuguesas, certo?

No caso da Maersk claramente sim, sobretudo Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau e Moçambique. Já temos um serviço para Moçambique mas ainda não é direto, o percurso é Portugal – Algeciras – Omã – Moçambique. Ainda não temos massa crítica em termos de carga para justificar um serviço direto, mas tê-lo-emos no prazo máximo de cinco anos.

Para além das ex-colónias, também estamos a crescer no tráfego de Portugal para o Médio Oriente (Golfo e Índia) e Extremo Oriente e estamos também a focar-nos na América do Norte. África é la crème de la crème mas, por via de África, gostamos de fazer outros tráfegos que são interessantes.

Quais vão ser as apostas da Maersk Portugal para o curto e médio prazo?

Neste momento temos a capacidade que precisamos para crescer no mercado português. Vamos potenciar a nossa oferta para a América do Norte, que é uma região muito interessante para Espanha e para Portugal. Já temos um serviço que parte da Índia, passa por Algeciras e tem como destinos Nova Iorque, Houston e Savannah. Desde meados de junho temos outro serviço, ligando o Golfo Pérsico a Algeciras e à América do Norte. Com a nossa ligação muito fiável entre Lisboa e Porto a Algeciras, garantimos duas partidas por semana no sentido da América do Norte. Para o mercado português, estes serviços são interessantes em termos das exportações para a América do Norte e também das importações da Índia e do Golfo Pérsico.

No ano passado criámos um serviço, chamado Eco Med, a pensar nas importações de banana e ananás da América Central e do Sul para a Europa. Este serviço começou por focar-se na importação de fruta, mas depois verificámos um interesse tão forte do mercado na exportação de carga geral que já não temos muito espaço para crescer. Estamos ainda a desenvolver uma ligação de Algeciras para o México, via Causedo, na República Dominicana, que pode abrir um mercado novo para nós. E, desde o início de junho, estamos a vender um serviço direto da África do Sul para Lisboa, relacionado com a campanha de citrinos. Até ao final do Verão é uma possibilidade de exportação de carga para a África do Sul.

Leia a entrevista na íntegra na edição de Julho/Agosto da sua LOGÍSTICA & TRANSPORTES HOJE

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