Após uma interrupção inesperada que praticamente pôs em standby o turismo a nível mundial, Portugal volta a recuperar os volumes de visitantes que tanto deram ao país no período pré-pandemia. Contudo, também os valores de quem visita o país estão a alterar-se e há cada vez mais uma procura por ofertas de hospedagem que permitam alinhar agendas valorativas e de lazer. Conheça dois projetos hoteleiros que estão a apostar na eletrificação e sustentabilidade para melhorar a sua oferta de valor aos seus clientes.
Depois de encerramentos e aberturas das economias a nível mundial fruto da pandemia, 2023 marca o regresso em pleno da atividade turística. Levantadas as restrições de circulação, o ano deve ser de recuperação e superação dos valores históricos de visitas ao país. Contudo, quem hoje vem a Portugal de férias procura agora mais do que a comodidade de um hotel ou a simpatia dos seus funcionários, mas também alinhar aquilo que são as suas agendas pessoais em termos de valores com a oferta de serviço que lhe é proposto. Neste sentido, e com a sustentabilidade a chegar também aos espaços de hotelaria, fomos conhecer dois projetos que estão a ‘eletrificar’ grande parte da sua atividade e a oferecer, desta forma, mais opções aos seus clientes… sobretudo os que se movem por energia verde.
Será útil relembrar o fio condutor dos números do turismo no país, mas também os ‘acordos firmados’ para tornar mais amiga do ambiente a receção de visitantes. Assim, num documento partilhado, ainda em 2021, pelo Turismo de Portugal, no seu ‘Plano Turismo +Sustentável 20-23’, assumia-se o desígnio de “posicionar Portugal como um dos destinos turísticos do mundo mais sustentáveis, competitivos e seguros, através do planeamento e desenvolvimento sustentável das atividades turísticas, do ponto de vista económico, social e ambiental, em todo o território e em linha com a Estratégia Turismo 2027.”
Logo nas primeiras páginas do referido documento, assume-se assim que “a sustentabilidade no Turismo é um objetivo e um caminho que deve ter em conta as necessidades dos visitantes, do setor e das comunidades, bem como os seus impactes ambientais, económicos e sociais no presente e no futuro”, devendo, por isso, o “turismo sustentável fazer um uso adequado do território e dos recursos naturais, respeitar a autenticidade sociocultural das comunidades e assegurar que as atividades económicas sejam viáveis a longo prazo.”
Neste sentido, defende-se igualmente no documento que se deve “ainda estimular estes princípios em toda a cadeia de valor, da oferta à procura, promovendo um destino baseado nas melhores práticas de sustentabilidade, mas também uma mudança na atitude de quem nos visita”, ponto último que também já se vai verificando.
É possível perceber que os próximos anos manterão a tendência de tornar mais amiga do ambiente a atividade turística, sendo que a visão da Estratégia Turismo 2027 assenta na afirmação do “Turismo como hub para o desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território, posicionando Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo”. Para conseguir este objetivo, são definidos oito objetivos estratégicos de sustentabilidade económica, social e ambiental: “Aumentar a procura turística no país e nas várias regiões; Crescer a um ritmo mais acelerado nas receitas do que nas dormidas; Alargar a atividade turística a todo o ano; Aumentar as habilitações da população empregada no Turismo; Assegurar que a atividade turística gera um impacto positivo nas populações residentes; Incrementar os níveis de eficiência energética nas empresas do Turismo; Impulsionar uma gestão racional do recurso água no Turismo; e promover uma gestão eficiente dos resíduos na atividade turística nacional.”
Aqui chegados, uma das vertentes exploradas entre as várias dimensões em que o turismo pode robustecer o seu contributo ambiental para a descarbonização, elege-se a mobilidade sustentável como eixo, afirmando-se mesmo que “é uma dimensão incontornável na sustentabilidade dos destinos e com forte impacte na atividade turística. A mobilidade suave e ciclável em contexto urbano, a conectividade entre os territórios, a adoção de meios de transporte terrestres e marítimos com baixo ou zero emissões de carbono, são alguns dos desafios a concretizar pelo setor.”
“O mercado de viagens sustentáveis valerá mais de 1,0 biliões de dólares em 2022 de acordo com a estimativa da Future Market Insights”
Mas para termos uma ideia da importância da descarbonização deste setor, importará também reter alguns números relativos aos valores de 2022. Assim, no boletim informativo do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgado em finais de janeiro, fazendo as contas ao ano transato, explica-se que “no conjunto do ano de 2022 (dados preliminares), os estabelecimentos de alojamento turístico registaram 26,5 milhões de hóspedes e 69,5 milhões de dormidas, que se traduziram em aumentos de 83,3% e 86,3% (+38,6% e +44,7% em 2021, respetivamente)” face ao ano anterior. Se tida em conta uma observação face aos valores pré-pandemia, ou seja 2019, “os hóspedes decresceram 2,3% e as dormidas diminuíram 0,9% (+8,6% nos residentes e -5,0% nos não residentes). Em 2022, registaram-se aumentos nas dormidas de residentes em todas as regiões, face a 2019. Nas dormidas de não residentes, os principais crescimentos verificaram-se na RA Açores (+5,1%), RA Madeira (+4,5%) e Norte (+4,3%) e, em sentido contrário, as maiores diminuições observaram-se no Centro (-13,1%) e Algarve (-11,3%)”, esperando-se que, em 2023, estes valores cresçam novamente, podendo até superar os valores de 2019.
Mas quanto vale o segmento do turismo sustentável? Numa análise extrapolada pela Confederação do Turismo de Portugal, diz-se que a nível global “o mercado do turismo sustentável tenha um aumento anual de 33,3% em 2022”, sendo que, de acordo com a estimativa da Future Market Insights, “o mercado de viagens sustentáveis valerá mais de 1,0 biliões de dólares em 2022”, valores que mostram a importância da aposta neste segmento.
Dois exemplos portugueses que apostaram na eletrificação
Desenhado de forma integrada com a paisagem, em harmonia com o ambiente e mantendo a sustentabilidade do ecossistema local, o West Cliffs Resort “pretende prestar um serviço de excelência assente num desenvolvimento e num crescimento, consciente e responsável, quer social, quer ambiental”.
Nas palavras de Ricardo Santos, Resort Manager deste empreendimento, o tema sustentabilidade é por isso sobejamente trabalhado. Segundo este gestor, “acreditamos que a sustentabilidade é um tema cada vez mais importante e que as empresas que não se adaptarem a essas mudanças de comportamento dos consumidores podem enfrentar desafios em relação à sua reputação e à sua consequente viabilidade financeira a longo prazo”.
A mesma visão é partilhada por António Esteves, General Manager do Marriott Praia D’El Rey Golf & Beach Resort, outro dos interlocutores ouvidos pela Revista Sustentável, que explica que a sustentabilidade ”é uma das nossas maiores prioridades nos dias de hoje e na nossa gestão em particular”, lembrando algumas das várias iniciativas tomadas para tornar mais verde a atividade deste resort, que, “para além dos carregadores elétricos, aposta na separação dos lixos, na irradicação do plástico e na instalação de paneis fotovoltaicos”, algo que tem sido “uma preocupação constante na nossa gestão.”
A mesma visão é partilhada pelo responsável do West Cliffs Resort, sendo que esta unidade faz “uso de fontes de energia renovável para alimentação do Edifício Club House”, mas trabalha também “a melhoria da eficiência dos sistemas de água ligados ao Campo de Golfe, a criação e disponibilização de postos de carregadores de veículos elétricos, a transição da frota interna para veículos elétricos e a criação de condições para que os nossos Clientes, internos e externos, possam fazer escolhas mais sustentáveis e ecológicas”.
“O West Cliffs Resort assume o compromisso de reduzir o impacto da sua atividade no meio ambiente, tendo sido recentemente premiado (2022), com o Galardão Chave Verde – Green Key, um galardão internacional que promove o Turismo Sustentável em Portugal”, explica ainda Ricardo Santos.
Impacto ambiental pesa na escolha
Mas estarão os consumidores alinhados com estas preocupações? Com o tema a ganhar tração em termos de bens de consumo, terá o contágio positivo de um ‘consumo’ mais ambientalmente responsável chegado também ao turismo? “A cultura da sustentabilidade está cada vez mais enraizada nos consumidores e nos nossos hospedes. É, sem sobra de dúvida, um critério de seleção e decisão de escolha da unidade Hoteleira”, explica António Esteves, sendo secundado pelo responsável do West Cliffs que diz ser “evidente que as questões de sustentabilidade estão cada vez mais presentes no discurso público e muitos clientes estão a tornar-se mais conscientes e preocupados com o impacto ambiental das suas escolhas”.
“É evidente que as questões de sustentabilidade estão cada vez mais presentes no discurso público e muitos clientes estão a tornar-se mais conscientes e preocupados com o impacto ambiental das suas escolhas”
Ricardo Santos, Resort Manager do West Cliffs
Neste âmbito, e porque existe um movimento paralelo de eletrificação da mobilidade, torna-se cada vez mais importante para uma experiência de turismo de excelência disponibilizar estações de carregamento. Ambos os interlocutores ouvidos explicam precisamente esta ‘transição’ e a necessidade de assegurar condições para este tipo de hóspedes. “O mercado de veículos elétricos em Portugal está a crescer e à medida que mais pessoas adotam veículos elétricos, a disponibilidade de postos de carregamento é uma consideração importante para aqueles que planeiam viajar de carro”, começa por referir Ricardo Santos, lembrando que “a instalação de postos de carregamento de veículos elétricos, além de reduzir a pegada e tornar-nos mais sustentáveis, em simultâneo atende as necessidades dos nossos Clientes e diferencia-nos da concorrência.”
Sobre este ponto, António Esteves lembra que um serviço de cliente numa unidade hoteleira deve ter sempre em atenção o aspeto de atendimento ao cliente, sendo, por isso, todos os colaboradores alvo de um processo formativo para ajudar clientes com eventuais questões relacionadas com o carregamento elétrico “Na nossa realidade, os hóspedes tomam desde logo como quase garantido que nas unidades de cinco estrelas o serviço de carregamento elétrico é possível. Atualmente ainda é uma mais-valia de algumas unidades, no entanto, num futuro próximo, deverá ser um serviço disseminado pela Hotelaria de qualidade em geral.”
“A cultura da sustentabilidade está cada vez mais enraizada nos consumidores e nos nossos hospedes”
António Esteves, General Manager do Marriott Praia D’El Rey Golf & Beach Resort
Sendo um ponto diferenciador, quisemos também ouvir o parceiro de instalação destas duas unidades hoteleiras, expressando Diogo Póvoas, Helexia Emobility Sales Manager, o empenho da empresa em estar sempre ao lado dos seus parceiros. “A Helexia quer ajudar os vários setores a implementar roteiros de descarbonização e dessa forma construir uma economia de baixo carbono. A necessidade de energia é transversal a todos os setores, no entanto a forma como a energia é utilizada difere de setor para setor”, começa por explicar, lembrando que, no caso específico do turismo “implica trabalhar com os vários atores do setor e, numa lógica de cocriação, diminuir custos energéticos por um lado e por outro diminuir a pegada carbónica. Ao fazer este caminho contribuímos para um turismo mais sustentável, um turismo com mais valor”.
“Um turismo sustentável deve potenciar a experiência dos clientes, fazê-los sentirem-se valorizados com a sua escolha”
Diogo Póvoas, Helexia Emobility Sales Manager, explica-nos em detalhe como a empresa auxiliou o West Cliffs Resort e Marriott Praia D’El Rey Golf & Beach Resort na sua ‘transição’ para uma aposta em carregadores elétricos nas suas instalações. Da instalação à formação contínua das equipas, bem como o serviço ao cliente, houve ainda tempo para abordar a importância da sustentabilidade na atividade turística.
Desenvolveram alguns projetos no setor do turismo sustentável, fazendo a gestão e monitorização destes projetos após a instalação. De que forma encararam este desafio com os vossos parceiros?
Encaramos sempre com grande sentido de responsabilidade. A gestão e monitorização é um excelente exemplo pois implica identificar e perceber os consumos energéticos da unidade hoteleira e dessa forma identificar oportunidades de otimização. Este é um serviço com uma componente de digitalização forte e que permite ter excelentes métricas e informação para apoiar na tomada de decisão. Só é possível melhorar o que é medido e acompanhado.
Além da formação inicial dada aos colaboradores das unidades hoteleiras, disponibilizam ainda um serviço de apoio ao cliente 24/7 e multilínguas. Este é um aspeto que melhora a experiência de cliente. É também reconhecido pelos vossos parceiros?
A formação promovida às equipas é um aspeto bastante valorizado pelos nossos parceiros, a qual não abdicamos. Consideramos que esta colaboração é essencial para melhorar a experiência do cliente, pois criamos embaixadores informais no terreno que estão capacitados a explicar aos seus clientes o processo de carregamento. Apostamos num serviço de suporte cliente que fosse: disponível 24/7, eficaz em várias línguas e eficiente na resolução de incidentes. Para isso, investimos em soluções de carregamento robustas e inteligentes, que nos asseguram desde logo elevadas taxas de disponibilidade e possibilitam intervenção remota e resolução imediata dos incidentes. Todos estes aspetos, são cruciais para tornar a experiência de excelência aos nossos clientes e tranquilizadora para os nossos parceiros, podendo assim, focarem-se a 100% no seu negócio.
Ter uma oferta adaptada às necessidades dos clientes, com carregadores rápidos e tradicionais, é também essencial para otimizar a experiência dos turistas?
Em todos os projetos, procuramos adaptar as soluções de carregamento aos diferentes use case. É fundamental compreender a dinâmica do negócio para construir uma solução mais alinhada possível com a expectativa dos nossos parceiros. Nestes projetos, foram instalados postos de carregamento de carga lenta a pensar nos clientes que ficam hospedados e, postos de carga rápida a pensar no cliente ocasional, que pode aproveitar para carregar o seu veículo elétrico durante um evento de empresa, um jogo de Golf ou uma refeição no restaurante.
“Em todos os projetos, procuramos adaptar as soluções de carregamento aos diferentes use case. É fundamental compreender a dinâmica do negócio para construir uma solução mais alinhada possível com a expectativa dos nossos parceiros”
Com agendas ambiciosas em termos de descarbonização, com o turismo em crescimento no país, de que forma podem este tipo de instalações promover também uma atividade turística mais sustentável?
As práticas de turismo sustentável atraem turistas ambientalmente e socialmente conscientes, o que ajudar a construir uma reputação positiva para Portugal como destino, o que obviamente ajuda no desenvolvimento do país. Um turismo sustentável deve potenciar a experiência dos clientes, fazê-los sentirem-se valorizados com a sua escolha. O turismo sustentável minimiza o impacto no meio ambiente, no consumo de recursos e ajuda no desenvolvimento das comunidades locais, criando empregos de qualidade e oportunidades de negócio. Em paralelo, também ajuda na promoção e preservação do património cultural. Por todas estas razões, o caminho sustentável do setor do turismo garante-nos um setor com uma boa pujança competitiva e uma excelente forma de promover o nosso país.
Oferecem também apoio em termos legais, de licenciamento, financiamento e partilha de receitas. Este é um ponto também reconhecido pelos vossos parceiros?
A nosso modelo de negócio permite aos nossos parceiros a possibilidade de oferecer serviço de carregamento aos seus clientes, sem necessidade de investimento e custos operacionais adicionais. Na fase de instalação, ficamos responsáveis pela execução do projeto, obra e legalização, sendo o investimento 100% suportado pela Helexia. Ao longo da exploração temos um mecanismo de incentivo com partilha de receitas, que julgamos ser benéfico para o sucesso do negócio e melhoria do serviço prestado ao cliente. Hoje, para um utilizador de veículos elétrico, a disponibilidade de posto de carregamento é um critério de seleção na escolha de um hotel. E por isso, acreditamos, que a capacitação das unidades hoteleiras com uma oferta com qualidade que sirva os clientes de veículos elétricos é crucial para continuar a crescer o negócio do Turismo. Pro outro lado, o facto de oferecemos um serviço de carregamento e suporte sem necessidade investimento financeiro e humano, garante aos parceiros a possibilidade de dedicarem os meios e recursos na sua atividade negócio mantendo a sua competitividade.
Esta rubrica tem o apoio da Helexia