Mobilidade

Vendas de veículos elétricos deverão registar “um crescimento de três dígitos”

MOB LAB veículos elétricos
Estima-se que existam cerca de 12 mil veículos elétricos em circulação em Portugal, um número que deverá crescer de forma exponencial ao longo dos próximos anos. Manuel José Reis, do Conselho Diretivo da UVE – Associação dos Utilizadores de Veículos Elétricos, acredita que a adoção destas soluções de mobilidade depende da capacidade do país para “criar as condições favoráveis à implementação de uma rede de carga abrangente”. O responsável será um dos oradores do MOB Lab Congress, que se realiza a 4 de julho, no Porto.

 Qual é o vosso papel enquanto associação representante dos utilizadores de carros elétricos?

A missão da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos é a divulgação e promoção da mobilidade elétrica em Portugal, através da organização de eventos de divulgação da mobilidade elétrica, como os Encontros Nacionais (ENVE) e Regionais (ERVE) de Veículos Elétricos, a participação em painéis de discussão sobre a mobilidade elétrica, a divulgação no nosso portal e nas redes sociais de toda a informação relevante para o avanço da mobilidade elétrica e ainda o contacto com os parceiros do mercado onde expomos os nossos pontos de vista de como deverá evoluir a mobilidade elétrica em Portugal.

Quais são atualmente as vantagens e as desvantagens da utilização de veículos elétricos, do ponto de vista do utilizador?

Desde 2010/2011, com o lançamento dos primeiros VE produzidos em massa, entendemos que são muito mais importantes as vantagens em utilizar um veículo elétrico que as eventuais desvantagens. A começar pela economia na utilização, que facilmente poderá ter um custo inferior a 2€ por cada 100km percorridos, a manutenção, que é quase ausente num veículo elétrico pois não há a necessidade da troca de lubrificantes nem de manter um motor com milhares de peças móveis. Depois há o prazer de condução elétrico com a simplicidade de condução e a disponibilidade instantânea de toda a potência do motor. Ainda hoje muitas pessoas ficam com o chamado sorriso elétrico, após a primeira experiência de condução. A ausência de emissões e ruído reduzido são um fator que mesmo aquelas pessoas que não consideraram importante na aquisição acabam por valorizar ao longo do ciclo de vida do veículo. As desvantagens são um custo de aquisição relativamente alto, uma menor autonomia que um veículo convencional e uma rede de carga ainda muito longe da abrangência da rede de abastecimento de combustíveis. Com a evolução tecnológica tem havido uma forte convergência destes três fatores para ser atingida a paridade com os veículos convencionais, mantendo, claro, as enormes vantagens ambientais, económicas e de condução.

Como imagina que o mercado dos veículos elétricos irá evoluir no futuro?

O crescimento das vendas de veículos elétricos desde a entrada da lei da fiscalidade verde tem sido exponencial, com as vendas a praticamente duplicarem de ano para ano. Este ano, com o lançamento de novos modelos, é esperado um crescimento de três dígitos. Como exemplo, uma nova geração de um modelo de VE tem em encomendas para este ano mais do que as vendas acumuladas desde 2010 da versão anterior desse modelo. A nossa previsão é que em Portugal nos anos 20 deste século as vendas de VE ultrapassem as dos veículos convencionais, havendo já um país, a Noruega, em que isso irá acontecer este ano devido à maior consciência ambiental e aos muitos incentivos que esse país coloca na aquisição e utilização de um VE.

 Quantos veículos elétricos já existem em circulação no país?

Até ao final do primeiro trimestre de 2018 tinham sido matriculados 4.907 veículos automóveis 100% elétricos (BEV), dos quais 1.787 em 2017, 726 no 1º trimestre de 2018 e os restantes 2.394 nos anos anteriores, faltando a estes números os importados, novos e usados, de 2017 e dos primeiros três meses de 2018. Isto mostra um crescimento exponencial, sendo este ano mais do que provável duplicar as vendas de 2017 ao nível dos automóveis 100% elétricos. A estes valores temos de somar mais 5.015 automóveis híbridos plug-in (PHEV) matriculados até ao final do primeiro trimestre de 2018, mais uma vez sendo a maior fatia os matriculados em 2017 com 2.450 unidades, mais as 792 viaturas matriculadas no primeiro trimestre deste ano e os restantes 1.773 nos anos anteriores. Somando tudo temos um total de 9.922 veículos elétricos em circulação em Portugal até ao final do primeiro trimestre de 2018. Mas há ainda uma fatia muito considerável de veículos elétricos de duas rodas, triciclos, quadriciclos, pesados de passageiros e de mercadorias, além dos veículos elétricos novos e usados importados de países com uma política de incentivos mais generosa que a nossa, dos quais apenas temos dados até dezembro de 2016, e que eleva para mais de 12.000 os veículos elétricos (BEV e PHEV) a circular em Portugal até março de 2018.

Quem são, em Portugal, os utilizadores de veículos elétricos? Qual é o perfil?

Em 2010/2011, quando se começaram a vender os primeiros veículos elétricos de produção em massa, os utilizadores de veículos elétricos eram pessoas bem informadas e preocupadas com o ambiente e também cientes das vantagens económicas e ambientais da condução de um VE, que conseguiam conciliar a relativamente curta autonomia e a quase inexistência de rede de carregamento com as suas necessidades de mobilidade. Entretanto com as ofertas a nível de autonomia muito superiores e com a maturação da rede de Postos de Carga Rápida (PCR) os veículos elétricos entraram no mainstream e já não existe um perfil bem definido.

No que diz respeito a infraestruturas, Portugal já está preparado para estes utilizadores?

Nos últimos anos, especialmente após o período do pedido de ajuda externo, deu-se uma melhoria muito significativa da rede de PCR, o que permite neste momento ir desde Valença até ao Algarve sem preocupações ao nível da existência de carregamento. No entanto é fundamental aumentar a fiabilidade da rede de carregamentos, como alguns episódios recentes o demonstram, e nas cidades de Porto e Lisboa a rede existente é já claramente subdimensionada para o número de veículos em circulação, devido ao enorme aumento de veículos de transporte de passageiros (táxi e descaraterizados) com veículos elétricos que necessitam de usar os postos de carga várias vezes ao dia.

O que é que ainda é preciso fazer e que incentivos são necessários para promover a utilização de veículos elétricos?

A principal ajuda que um país pode dar é criar as condições favoráveis à implementação de uma rede de carga abrangente, pois essa é a principal preocupação dos utilizadores no dia a dia e um fator que ainda impede muitas pessoas de dar o passo certo para a aquisição de um VE. Se no início tínhamos o problema do ovo e da galinha e tinha de ser o estado a criar uma rede de carregamento, hoje em dia o parque automóvel existente e as previsões de vendas já permitem que o setor privado possa entrar em força neste novo negócio. É por isso fundamental que seja iniciada a fase comercial na utilização da rede de carregamento, para fomentar a criação de novos pontos de carga. Sobre os incentivos à aquisição (dedução do IVA e ausência de tributação autónoma para empresas e ainda o incentivo de 2.250€ na aquisição para particulares e empresas) chegará uma altura onde estes terão de ser progressivamente retirados, mas ainda não chegámos a esse momento.

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