Entre os novos desafios colocados pela crise pandémica e as oportunidades geradas por tendências como a logística de e-commerce e a automatização, os players do setor logístico – cuja atividade sofreu uma quebra generalizada – reajustam perspetivas de negócio e reequacionam estratégias, apostando em tecnologias para áreas fundamentais, como a segurança e o comércio eletrónico.
A pandemia da COVID-19 provocou uma quebra generalizada na atividade logística. Empresas como a Luís Simões (LS) tiveram que reajustar rapidamente as suas perspetivas de negócio para 2020, “tendo em conta as repercussões do vírus na economia, em geral, e no setor logístico e dos transportes, em particular”.
A LS decidiu encarar esta nova etapa “com otimismo”, considerando que dispõe “das capacidades e recursos necessários para superá-la”, e sublinha que “durante estes meses os colaboradores provaram ser o motor e o coração da empresa”, como diz Luís Freitas, diretor-geral de logística da Luís Simões.
Face às mudanças no mercado -, da quebra na atividade para os setores de bens não-essenciais, como o das bebidas alcoólicas, o automotivo e o da moda, ao aumento da procura no setor da alimentação (de que é exemplo o café) e ao crescimento do e-commerce -, a empresa conseguiu “reajustar as operações, ajudando os clientes a continuar o seu negócio da melhor forma possível”. Segundo Luís Freitas, esta velocidade e capacidade de resposta “foram essenciais nos últimos meses, especialmente para os setores que registaram um aumento da procura”, e permitiram manter sólida a trajetória da LS.
Mantendo a aposta constante na automatização dos sistemas dos seus armazéns, a empresa adapta-se às novas tendências e aos requisitos de cada cliente, “oferecendo um serviço abrangente aplicado a toda a cadeia de abastecimento”.
Defendendo que “a intralogística e a sua eficácia são essenciais para um bom desempenho dos processos logísticos, e para que não haja disrupções” nessa cadeia, a Jungheinrich recorda como o início da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus provocou “novos desafios aliados a uma crescente necessidade de abastecer as populações ao nível de bens urgentes, como produtos alimentares e de saúde”.
De acordo com Mark Wender, managing director da Jungheinrich Portugal, em termos de serviços, “e considerando a volatilidade atual do mercado”, a empresa aumentou a disponibilidade de máquinas usadas, “uma importante ferramenta de flexibilidade nestes tempos mais complicados”. Também o serviço pós-venda ganhou uma maior relevância nesta fase, “uma vez que o fornecimento das lojas alimentares, farmácias, etc. se baseia em armazéns de distribuição, cujas operações só podem decorrer com os equipamentos de movimentação de cargas a funcionarem devidamente e em segurança”.
A empresa, que dispõe de uma logística de peças de reposição com um extenso portfólio com 98% de disponibilidade de peças, continuará “a otimizar a logística de peças em Portugal”, através da implementação de um sistema de entrega In-Night. A aposta passa, igualmente, para que os tempos de paragem possam ser mantidos curtos, através de canais de comunicação e tempos de reação rápidos. Neste âmbito, “as funções e serviços da Jungheinrich, tais como Call4Service e ServiceAvis, podem fazer toda a diferença”, conclui Mark Wender.
Na Generix, o contexto de covid-19 “não teve um impacto negativo significativo no negócio”, até ao momento, e, se “alguns clientes adiaram investimentos”, as implementações “continuam a decorrer e temos muito poucos casos de empresas que cessaram atividade ou abandonaram as soluções” da empresa, adianta Pedro Gordo, supply chain business manager da Generix.
Na sua opinião, atualmente “a intralogística reforça a sua importância, porque face a uma redução de atividade, as empresas vão reequacionar a sua estratégia logística, trazendo para dentro de portas operações externalizadas, procurando eficiência e redução de custos”. Por outro lado, “a procura por soluções em SaaS é uma tendência que veio para ficar e o novo normal que a covid-19 trouxe para dentro das empresas e dos lares dos seus colaboradores, favorece a utilização de soluções na cloud”, esclarece Pedro Gordo.
Tal como todos os outros, o setor dos equipamentos e movimentação de carga em Portugal sofreu os efeitos da pandemia e registou uma quebra na atividade. A qual, se comparada com outras áreas, “é pequena, mas ainda assim não deixa de influenciar os negócios”, como comenta Juan Méndez, country manager Portugal da Linde Material Handling.
Na sua perspetiva, a tendência, no atual contexto, é manter a procura de máquinas recondicionadas e os serviços de aluguer, “pois muitos clientes não têm fluxo de paletes ou atividade que justifique investimentos em equipamentos novos, e optam por estas duas alternativas”. Dispondo de um parque amplo, que lhe permite dar resposta a solicitações muitos específicas, a fabricante mundial de empilhadores e de equipamentos de tecnologia de armazenamento continua a sua atividade “tendo como prioridade a resposta rápida e eficiente às necessidades dos clientes”.
Automatizar para otimizar
Digitalização, automatização, eletrificação. São estes os grandes drivers tecnológicos que conduzem o negócio, garante Mark Wender. Para o managing director, “os equipamentos de movimentação de carga parcial ou totalmente automatizados oferecem um enorme potencial de otimização em relação aos tempos de processo e segurança, flexibilidade e redução de erros, para além de possibilitarem uma utilização otimizada dos recursos”.
Na Jungheinrich, a área de automatização abrange sistemas de transporte sem condutor e tecnologias de transporte, armazéns automáticos de peças pequenas e paletes, e o sistema de gestão de armazém Jungheinrich WMS, compatível com equipamentos futuros.
Já a digitalização e a ligação em rede são, segundo o responsável, “as alavancas para tornar os processos logísticos mais eficientes”, sendo que “a otimização digital dos processos permite obter grandes aumentos de produtividade, assegurar qualidade e reduzir os custos”.
Por último, a eletrificação vem no seguimento das preocupações ambientais e reduções de CO2, pelo que “a tendência é a substituição de empilhadores a diesel/GPL por equipamentos elétricos”. A Jungheinrich está empenhada no desenvolvimento de soluções ambientalmente sustentáveis, como as baterias de iões de lítio, que substituem as baterias tradicionais de chumbo-ácido e que podem ser usadas para todos os tipos de empilhadores elétricos da empresa.
No mercado da gestão de armazéns, “sente-se por parte das empresas uma maior necessidade de digitalização e automatização de processos”, reitera Pedro Gordo: “Cloud, Internet-of-Thing, Blockchain, Digital Twins, são conceitos cada vez mais bem compreendidos pela comunidade e que no futuro próximo farão parte da gestão armazéns”. Para já, o crescimento exponencial do e-commerce “está a impulsionar o investimento em tecnologias que proporcionam uma maior interação e colaboração entre os agentes, melhores níveis de serviço e superior eficiência, quer individual, quer ao nível da rede (industriais, distribuidores, retalhistas, transportadores, 3PL, etc.)”, afirma o responsável da Generix.
Considerando que a tecnologia “é responsável por equipamentos altamente evoluídos que procuram excelência na produtividade e na rentabilidade das operações”, Juan Méndez acredita que o sector “continua a passar por grandes transformações tecnológicas. Na Linde, “uma das maiores preocupações sempre foi a segurança”, e a atual pandemia coloca “desafios à sociedade e às empresas”. Perante esses desafios, “neste momento a segurança é a prioridade de todos e o driver de desenvolvimento tecnológico”.
Também a Luís Simões acredita que “o futuro do setor da logística passa pela automatização”, motivo pelo qual nos últimos anos tem vindo a apostar neste modelo, “sempre que as condições da operação o permitem”. Na perspetiva de Luís Freitas, “os armazéns são uma ferramenta estratégica que gera valor para os clientes, permitindo o aproveitamento das tecnologias emergentes para conseguir uma operação mais simples e mais fácil. Com a automatização, podemos lidar da melhor forma com os grandes volumes de pedidos e respetiva movimentação, garantindo também diferenciação”.
O diretor-geral de logística garante que os sistemas automatizados “trazem diversas vantagens às operações de logística e e-commerce, mas também de distribuição tradicional: o investimento em tecnologia permite aumentar a rentabilidade dos processos, minimizando as probabilidades de erro, aumentando a rastreabilidade da mercadoria e diminuindo o tempo e os recursos exigidos pelas operações”.
Como destaca, algumas das tendências que estão a tornar os armazéns inteligentes numa realidade são os veículos autónomos, robôs inteligentes, realidade aumentada, impressão 3D, identificação por radiofrequência, IoT, Inteligência Artificial, sistemas pick-to-light e voice picking.
Entre os novos desafios colocados pela atual crise pandémica e as oportunidades geradas por tendências como a logística de e-commerce e a automatização, que perspetivas se apresentam aos negócios de intralogística?
A “incerteza sobre o impacto futuro da pandemia da covid-19 na tendência económica global torna atualmente impossível fazer uma avaliação fiável do desenvolvimento de negócio para o resto do ano”, admite Mark Wender. Não obstante, a Jungheinrich “está muito bem preparada para enfrentar os desafios atuais e futuros” e, “nesta base, estamos convencidos de que sairemos ainda mais fortes desta crise”. Em 2019, o fornecedor de serviços e fabricante de soluções intralogísticas integradas alcançou “taxas de crescimento muito satisfatórias em praticamente todas as áreas” e, “apesar do ambiente difícil do mercado”, alcançou “um resultado gratificante nos primeiros meses do ano 2020”, detalha o managing director.
Segundo Luís Freitas, nos últimos anos a empresa centrou-se claramente no crescimento, e “em 2020 esperamos manter esta vantagem e consolidar as nossas bases”, diz. Para o diretor-geral de logística, a empresa – que vem investindo na diversificação de serviços e na automatização dos seus centros logísticos – mantém um “compromisso constante com a inovação” que lhe permite “enfrentar este ano com capacidade suficiente para atender à crescente demanda logística de grandes clientes”.
Por último, o volume de negócio do último exercício da Generix Group foi de 81,1 milhões de euros, dos quais cerca de quatro milhões de euros correspondem a Portugal. As perspetivas para o próximo ano “são moderadas”, antecipa Pedro Gordo, pois “é esperada alguma contração no crescimento do negócio, devido à crise gerada pela COVID-19”.
Com maior ou menor moderação, os players do setor logístico estão a investir no lançamento de novos serviços e soluções (ver caixa), com vista a responder às crescentes exigências do mercado, nomeadamente no que concerne requisitos de segurança impostos pelo novo coronavírus.
Frotas adaptam-se a iões de lítio
A sensibilização para os iões de lítio está a impulsionar a sua adoção generalizada. Segundo um estudo sobre a utilização desta tecnologia, realizado pela Jungheinrich Portugal, em alternativa aos motores de combustão interna e às convencionais baterias de chumbo-ácido, a tecnologia de iões de lítio “tem vindo a revolucionar o mercado de equipamentos de movimentação de cargas”, ao incluir tempos de carregamento rápidos, isenção de manutenção e uma longa vida útil.
No inquérito realizado entre 300 participantes do setor da logística e transporte de mercadorias e diversas indústrias, cerca de metade afirma que considerará os iões de lítio na sua próxima aquisição.
A adoção desta tecnologia é impulsionada “pela necessidade urgente de melhorar o desempenho da cadeia de abastecimento e da eficiência das operações, bem como reduzir o impacto das operações logísticas no ambiente, nomeadamente ao nível da redução das emissões de CO2”. Neste contexto, o estudo conclui que um “ciclo de vida mais longo” é um fator com crescente relevância na aquisição de empilhadores. Por outro lado, as empresas “já não esperam pela necessidade de trocar a sua frota de empilhadores para considerarem os iões de lítio como uma solução”.
O mercado nacional evoluiu para além da fase de consciencialização, com 62% dos inquiridos a afirmarem que estão familiarizados com esta tecnologia ou que já adquiriram empilhadores movidos a iões de lítio. E 49% a manifestarem-se disponíveis para readaptar os seus empilhadores com baterias de chumbo-ácidos à tecnologia de iões de lítio.
Para a Jungheinrich, este “é um sinal positivo, que mostra a confiança que a tecnologia está a ganhar junto das empresas”. Focada na eletromobilidade no setor intralogístico e no desenvolvimento de baterias de iões de lítio, a Jungheinrich Portugal “tem, praticamente, toda a sua frota adaptada” a esta solução.