Foi descoberta, por investigadores do Instituto Superior Técnico (IST), uma nova espécie de bactéria simbiótica em corais do Oceanário de Lisboa.
Chama-se Endozoicomonas lisbonensis e poderá impulsionar novas investigações que ajudem a proteger os ecossistemas, salvar os corais, e criar impacto na reciclagem de resíduos marinhos.
Num artigo científico publicado no International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, os investigadores explicam que a Endozoicomonas são simbiontes dos corais, ou seja, os dois organismos interagem de forma mutuamente benéfica.
Em particular, a E. lisbonensis distingue-se das espécies mais próximas devido à sua capacidade de reduzir nitratos a nitritos, o que contribui para “um dos ciclos de nutrientes mais importantes do oceano (e essencial à saúde dos corais), o ciclo do azoto”.
De acordo com o comunicado de imprensa, a bactéria foi inicialmente isolada em 2022, mas só após uma sequenciação completa do seu genoma foi possível confirmar que se tratava de uma nova espécie.
Segundo os investigadores, a bactéria desenvolve-se melhor na presença de sal, consegue mover-se e nadar graças a uma pequena estrutura chamada flagelo e é um organismo anaeróbio facultativo, o que significa que pode crescer tanto com ou sem oxigénio.
Outra das características desta bactéria é a sua capacidade de degradar hidratos de carbono complexos comuns no ambiente, incluindo celulose, xilano e quitina.
“O nosso interesse centra-se especialmente na degradação da quitina, tanto pelo seu potencial biotecnológico – como a descoberta de novas enzimas que possam ajudar na reciclagem de resíduos da indústria do marisco – como pelo seu possível papel na interação com os corais”, afirmam os investigadores do Técnico.
A nota de imprensa explica ainda que os corais alimentam-se através de uma dieta rica em quitina, pelo que estes microrganismos podem desempenhar um papel na disponibilização de nutrientes ao seu hospedeiro. Além disso, a quitina e as enzimas que a degradam (quitinases) podem estar envolvidas na comunicação entre as bactérias e os corais ou até na defesa contra patógenos fúngicos.
“No entanto, muitas destas hipóteses ainda precisam de ser testadas”, relembra a investigadora Tina Keller-Costa, uma das autoras do artigo, explicando ainda que “compreender os mecanismos exatos e os fatores evolutivos por detrás destas interações é o que mais nos entusiasma”.
“Os aquários contribuem para o estudo de muitas espécies difíceis de monitorizar e estudar no meio natural, como é o caso desta bactéria”, afirmou Núria Baylina, Diretora de Biologia e Conservação do Oceanário de Lisboa, reforçando que “os estudos realizados com espécies em ambientes controlados (ex situ) complementam aqueles realizados no meio natural (in situ) e a junção das duas abordagens permite avançar mais rápido no conhecimento científico sobre as espécies, o seu papel no equilíbrio dos ecossistemas e as ameaças que enfrentam”.
“Explorar o microbioma dos corais do Oceanário de Lisboa é particularmente entusiasmante”, segundo Tina Keller-Costa, “porque permite compreender a estabilidade da relação entre os corais e os seus parceiros microbianos”.
A par disso, a caracterização do microbioma que foi feita no Oceanário pode ajudar a monitorizar e compreender melhor potenciais doenças microbianas no sistema, permitindo desenvolver estratégias eficazes para a sua prevenção e mitigação.
A descoberta da nova espécie recebeu apoio financeiro da agenda mobilizadora PRR Pacto da Bioeconomia Azul, no âmbito do projeto de capacitação Biobanco Azul Português.