Os eurodeputados da Comissão do Ambiente do Parlamento Europeu estão divididos na maneira como a União Europeia deve abordar o problema dos resíduos de embalagens. Se de um lado todos concordam que é preciso diminuir o impacto ambiental, como alcançá-lo é o ponto de discórdia.
A proposta apresentada
A proposta apresentada pela relatora Frédérique Ries removeu vários objetivos de reutilização do plástico propostos pela Comissão Europeia, como 20% das vendas de bebidas em takeaway serem em embalagens reutilizáveis ou com refill até 2030, aumentando para 80% até 2040.
A relatora justifica que “os benefícios ambientais da reutilização no setor da comida e das bebidas em takeaway são difíceis de provar e não são realmente abordados na avaliação de impacto da Comissão Europeia”. Neste setor é adicionado o requisito de os restaurantes e cafés aceitarem os recipientes trazidos pelos consumidores.
Outras das mudanças propostas é a definição de condições mais rigorosas para colocar no mercado sacos de plástico muito leves e introduzir objetivos específicos de redução para as embalagens de plástico. A relatora propõe igualmente alterações para aumentar a segurança jurídica e garantir que a indústria, em especial as PME, possam conseguir ajustar-se aos novos requisitos. Nesse sentido, por exemplo, é proposta a criação de incentivos ligados aos requisitos de conteúdo mínimo reciclado nas embalagens.
O documento elimina ainda a possibilidade da Comissão Europeia de suspender, mesmo que temporariamente, os objetivos de conteúdo reciclado.
Os pontos de discórdia
Os objetivos de reutilização para o takeaway e o papel de embalagens de papel na substituição dos plásticos são os principais pontos de discórdia.
No caso do primeiro ponto, segundo o portal Euractiv, o eurodeputado do PPE, Massimiliano Salini, apoiou a remoção desses objetivos, uma vez que está preocupado que poderiam ter um efeito reverso e aumentar a utilização do plástico, invés de a reduzir.
No entanto, eurodeputados do grupo dos Verdes e do S&D preferem manter os objetivos da Comissão Europeia, uma vez que consideram que, além de reduzir os resíduos, iria ser um incentivo à inovação nesta área.
A Comissão Europeia defende que é um objetivo importante para lidar com a criação de resíduos, apesar de estar completamente ciente das críticas.
“Deixamos à sabedoria dos membros desta comissão parlamentar e, de um modo mais geral, à sabedoria deste parlamento decidir qual seria a melhor solução aplicável aos alimentos e bebidas em regime takeaway, mas pedimos que pensem que a simples eliminação da meta não irá concretizar as ambições ambientais necessárias”, afirmou o diretor para a economia circular no departamento do ambiente da Comissão Europeia, Aurel Ciobanu-Dordea.
Já no caso do debate entre o plástico e o papel, a discórdia está se o papel reciclável é preferível ao plástico em restaurantes.
Os eurodeputados da Suécia e da Finlândia, onde a indústria florestal tem um grande, defenderam o papel nesse debate.
No entanto, outros eurodeputados sugerem que o papel e o plástico devem ser tratados separadamente, uma vez que um dos objetivos da UE é reduzir o uso de plástico.
Por sua vez, o eurodeputado Pascal Canfin alertou que “se substituirmos todo o plástico por papel onde pudermos – haverá um problema com as florestas. A certa altura, não é apenas uma questão de reciclabilidade, é também uma questão de volume. Temos de reduzir [o desperdício] e vamos começar pelas embalagens inúteis”.
A comissão do Ambiente do Parlamento Europeu vai votar a sua posição final em setembro, antes de a proposta seguir para aprovação do plenário em outubro.