Os dados são da Sociedade Ponto Verde: em Portugal, as embalagens que o consumidor final não separa e que são encaminhadas para aterro representam uma perda de valor económico de 31 milhões de euros por ano. A esta perda económica soma-se, naturalmente, a ambiental.
No centro desta questão está a relação dúbia entre resíduos e recursos, que podiam e deviam ser sinónimos, mas que ainda estão em fases antagónicas. Júlia Seixas, professora e pró-reitora da Universidade Nova de Lisboa, referia recentemente no Congresso Insustentável (e cuja intervenção damos nota nesta edição) que o tema dos resíduos com valor económico “ainda não está no centro da sala”. E, na verdade, este é o fulcro da questão.
No mesmo evento, Nuno Calado, diretor de Sustentabilidade da Sonae Arauco, falava nas baixas taxas cobradas para deposição em aterro que não incentivam minimamente a economia circular. Ou seja, ainda compensa (ao consumidor e às empresas) não reciclar. E num país com metas ambiciosas para cumprir, isto não devia ser assim. Podemos sensibilizar, educar, evangelizar, mas o assunto só começa a interessar verdadeiramente quando ‘toca no bolso’. Os incentivos têm de servir os objetivos da sustentabilidade e devem ser usados para criar hábitos de reciclagem e robustecer processos. E a fiscalidade tem um papel importante para servir estes propósitos, veja-se o caso de países como a Suíça, onde o ‘lixo’ é um assunto sério, e cada cidadão paga taxas em função dos kgs de resíduos que produz.
Sim, os resíduos têm de entrar rapidamente na sala e não podem ficar sentados a um canto. E o tema de capa desta edição reflete isso mesmo: a necessidade de acelerar a I&D para poder incorporar e valorizar o desperdício. É possível, está a ser feito e precisa de ser escalado e replicado. Vamos lá!