Análise: Logística do Frio, mercado altamente concentrado

Análise: Logística do Frio

O negócio de serviços logísticos de frio em Portugal está concentrado num reduzido número de operadores logísticos. Esta tendência tem vindo a reforçar-se nos últimos anos e deverá agravar-se nos próximos tempos, face à difícil conjuntura económica. Por um lado é uma consequência natural na prestação de serviços em mercados maduros, em especial no comércio de bens transacionáveis, por outro o grau de concentração superior ao de outros ramos de negócio, explica-se por ser um negócio que requer um forte investimento em infraestruturas.

“O mercado da logística de frio necessita de quantidades de investimento avultadas. Fazer uma operação de alta qualidade exige instalações muito seguras do ponto de vista do controlo da temperatura e da eficiência dos processos”, explica Susana Quelhas, da Direção Técnica de Qualidade do Grupo Cooprofar-Medlog, que atua no setor farmacêutico.

Os operadores logísticos presentes nesta atividade não veem inconveniente nesta concentração, ainda que Ana Falcão, Diretora Geral da Frigoservice, tema que a oferta passe a ser “menos competitiva”. Outros operadores consideram-na uma garantia de valor para os clientes. “A tendência de concentração do negócio incute competitividade no setor e suporta a necessidade das empresas agregarem valor ao serviço prestado, apostando, por isso, em fatores diferenciadores”, afirma Susana Quelhas.

Denise Deus, Responsável Comercial Clientes Refrigerado da FCC Logística, considera que esta tendência “poderá trazer alguns benefícios em termos de sinergias e maior amplitude na oferta de serviços”. Para Nuno Ramalho, Diretor Geral da Rangel Distribuição e Logística, está tendência irá “seguramente elevar os padrões do serviço prestado e em simultâneo trazer mais-valias financeiras para os clientes”.

“O facto de o mercado estar de alguma forma concentrado permitiu às empresas ter massa crítica suficiente para oferecer serviços e meios de topo que de outra forma não estariam acessíveis a um mercado de reduzida dimensão como o nosso”, afirma Vitor Figueiredo, Country Manager da Univeg Portugal. “Apesar da concentração, pensamos que o consumidor tem beneficiado da livre concorrência entre operadores não sendo este um mercado que apresente qualquer tipo de ineficiências que normalmente se encontram em negócios com alto nível de concentração”. Semelhante opinião têm a STEF Portugal e a Frissul, empresas que se manifestam mesmo interessadas em “dar uma contribuição para uma maior concentração dos operadores a atuar no mercado”, nas palavras de Afonso Almeida, Administrador da Frissul. Para Sérgio Soares, Diretor Geral da STEF Portugal, a concentração potencia a sustentabilidade das operações, um aspeto importante, porque “hoje existem atividades não sustentáveis num mercado extremamente pequeno como o mercado do frio em Portugal”.

Preço, segurança, flexibilidade

Os setores que mais recorrem aos serviços de logística e distribuição de frio são os produtos alimentares em temperatura controlada e o setor farmacêutico. No primeiro caso, os principais clientes são a distribuição moderna e a indústria alimentar. A FCC Logística menciona a importância de clientes das áreas de lacticínios, enchidos e produtos de quarta gama. Já no setor farmacêutico, imperam as farmácias e restantes espaços de saúde. Todos estes clientes querem bons preços, eficiência e rapidez nas entregas.  Na logística farmacêutica, os requisitos essenciais são pré-determinados pelo Infarmed, a entidade que regula o setor, e só quem os cumpre pode prestar serviços nesta área de atividade.

Depois importam fatores como o preço, que ganha preponderância face aos condicionalismos económicos em que o país se encontra. “Contudo, percebe-se claramente que há recetividade a outros fatores, como a entrega dos resultados operacionais acordados, o acompanhamento próximo e, também, o estímulo por novos desafios”, nota a Rangel.

“As questões associadas à segurança e à rastreabilidade das condições térmicas às quais os produtos são submetidos durante as fases de armazenamento e transporte assumem neste caso um caráter particularmente importante”, refere o Grupo Cooprofar-Medlog. Já Fernando Manuel Torres, Business Manager da Torrestir, menciona exigências como “flexibilidade, eficácia, profissionalismo e especialização”.

Na área alimentar garantir preços competitivos é uma condição essencial.“Existe uma razão económica muito significativa para optar pelo outsourcing da operação logística, dado que os operadores têm a capacidade de fomentar sinergias que advêm de gerirem operações multicliente e assim terem maior facilidade em obter taxas de utilização das suas infraestruturas e meios”, menciona a Univeg.

O momento de retração económica que vivemos levará a um reforço da externalização da operação logística em Portugal, motivada pela necessidade de transformar custos fixos em variáveis. “A tendência para optar pelo outsourcing deverá ser superior na cadeia de abastecimento de produtos perecíveis, uma vez que se trata de um negócio que requer maior investimento em infraestrutura”, estima Vitor Figueiredo.

Mas garantir preço não chega, e aos operadores logísticos é requerida muita flexibilidade. “Nos dias que correm é sempre muito importante ter uma grande eficiência, de forma a podermos ter preços competitivos, que é isso que o mercado espera de nós”, refere a Frissul. Quanto mais personalizado melhor, afirma a FCC Logística, que procura garantir “tailor-made solutions”.

Porque é fundamental “acrescentar valor às operações do negócio do cliente”. “A nossa estratégia passa por integrar cada vez mais serviços na cadeia de abastecimento dos nossos clientes”, explica Vítor Enes, Diretor Geral Ibérico de Logística do GLS – Grupo Luís Simões, exemplificando com a pesagem e etiquetagem de queijos com peso variável ou serviços promocionais, como a elaboração de packs.

Leia o artigo na íntegra na edição de Março/Abril da Logística & Transportes Hoje

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