Operadores Logísticos

Bens de primeira necessidade dinamizam setor

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Focado em adotar medidas de segurança e estratégias de negócio cruciais para garantir a continuidade das operações, no atual contexto de pandemia, o setor dos transportes e logística adapta-se às tendências de omnicanalidade, aumento do e-commerce e do comércio de proximidade, ou para transações comerciais cada vez mais tecnológicas e comunicação digital com os clientes. Os segmentos de bens de primeira necessidade são as grandes apostas deste ano, dinamizando, principalmente no setor da alimentação, a logística e transporte de frio.

A pandemia que o mundo está a atravessar representa um desafio a nível global e os seus efeitos são transversais a todas as áreas de atividade. No setor da distribuição, e como defende o general manager da Greenyard Logistics Portugal, “os recentes eventos relacionados com a COVID-19 vieram servir como um acelerador significativo quer da omnicanalidade, quer na tendência de aumento do comércio de proximidade”. Nestes dois aspetos, “não diríamos que a pandemia vai alterar as tendências que já existiam, mas sim acelerá-las de uma forma muito significativa”, sublinha Vitor Figueiredo.

No que diz respeito à forma como está organizada a cadeia de abastecimento, a Greenyard antecipa “um impacto profundo em determinados paradigmas que pensávamos abandonados”, explica o responsável, apontando como principais variações o aumento dos stocks mínimos (mais visível em produtos com menor grau de perecibilidade); a maior dispersão geográfica dos centros de distribuição (evitando grandes concentrações que “acabam por tornar a cadeia exposta a uma situação pandémica e nem sempre se coadunam com uma distribuição mais capilar”, e gerando “alguma descentralização e redundância que, naturalmente, irão diminuir alguns ganhos de escala”); e a maior troca de informação e transparência entre os vários intervenientes da cadeia, no sentido de antecipar ruturas e poder partilhar stocks para fazer face a uma maior incerteza (“uma forma de tornar a cadeia mais robusta”).

Internamente, a empresa estabeleceu planos específicos para garantir a segurança de todos os colaboradores, antes de mais. Mas também para garantir a manutenção ininterrupta da cadeia de abastecimento dos clientes, e a estabilidade económica e financeira da empresa.

A Greenyard constituiu um gabinete de crise com, pelo menos, três membros permanentes, e distribuiu EPI adicionais e específicos à ameaça, com adaptação dos stocks existentes, criou um plano de substituições para elementos da equipa de gestão, reforçou todas as boas normas para evitar o contágio presencial, reforçou todos os pontos de desinfeção, eliminou visitas externas e reuniões presenciais, e reviu todos os planos de deslocação profissionais, recolhendo voluntariamente os colaboradores das deslocações internacionais a título pessoal. A empresa criou ainda uma área para isolamento e distribuição de instruções para o tratamento de pessoas com sintomas, estabeleceu um esquema de escalas das equipas operacionais de forma a poder substituir turnos que sejam contaminados ou colocados de quarentena, e criou sistemas de teletrabalho sempre que as funções assim o permitam.

No atual contexto imposto pelo novo coronavírus, a maior mudança que a Luís Simões efetuou nas operações, em todas as áreas, foi no sentido de garantir a saúde e a segurança de todos os seus colaboradores, “especialmente os motoristas e operadores de armazém, bem como os elos seguintes da cadeia de distribuição”, esclarece o diretor-geral de business development da LS. Logo no início da pandemia a empresa ativou um plano de contingência com diferentes medidas – entre elas o teletrabalho para todas as equipas administrativas, a obrigatoriedade de medição da temperatura corporal a quem aceda a qualquer dos seus centros e a restrição do número de colaboradores nos armazéns. Como detalha Vítor Enes, foi ainda administrada a todos os motoristas formação (e informação) “sobre como atuar em ambientes e momentos adversos”, tendo-lhes sido também disponibilizados kits de segurança compostos por álcool-gel, máscaras e luvas. A empresa assegurou ainda, em todos os seus centros na Península Ibérica, materiais de proteção para a devida segurança dos trabalhadores.

Boas práticas obrigatórias

Face à contingência a nível global a que assistimos, e que “está a atingir todos os países de igual forma”, verifica-se “uma consciencialização generalizada da importância de adotar os comportamentos e medidas identificados como boas praticas”, segundo afirma o general manager da Greenyard. “As pessoas estão conscientes que existem constrangimentos inevitáveis, que advém das medidas implementadas, e que são cruciais para garantir a continuidade das atividades”, sublinha Vitor Figueiredo. Na sua opinião, quer o sector agroalimentar, quer o de logística “deram uma resposta muito positiva durante a crise, não tendo sido sentidos constrangimentos de maior ao normal abastecimento dos bens alimentares”.

O contexto atual em que vivemos veio acelerar “uma tendência já antes visível de incremento da importância das novas tecnologias na forma como nos relacionamos a nível pessoal e profissional, não só para a realização das transações comerciais, mas também para a comunicação com os clientes (sendo quase obrigatórias as relações à distância, mas mantendo o contacto próximo), diz ainda. E a verdade é que a organização do trabalho em regime de teletrabalho “constitui um desafio a que todas as empresas têm de dar resposta e corresponder”, de forma a que “os clientes continuem a sentir proximidade com o dia-a-dia da empresa, mesmo que o seu interlocutor não esteja fisicamente no edifício”.

O canal online recebeu também “um grande impulso, tendo tido crescimentos muito acima do que se esperava e acima da capacidade instalada”, destaca o responsável. Para a Greenyard, estas são tendências “irreversíveis e que se manterão, mesmo depois do fim da pandemia”. E todas elas “estão totalmente alinhadas com a visão estratégica da empresa em termos de desenvolvimento de negócio”, conclui.

Para a Luís Simões, o maior impacto desta nova realidade em toda a cadeia de distribuição, incluindo nas operações da empresa, “tem sido, sem dúvida, a redução da atividade”. Segundo Vítor Enes, “com alguns dos nossos clientes a parar as suas operações ou a diminuir significativamente o seu volume, obviamente a nossa atividade sofreu também uma quebra natural e que, de resto, se previa perante este cenário”. Não obstante, a Luís Simões conta “com uma estrutura muito resiliente” e está confiante de que vai “sair desta crise com resultados positivos”, até porque opera em segmentos de bens de primeira necessidade, como os da alimentação, higiene e limpeza”.  Estas áreas serão, aliás, “as grandes apostas deste ano, nas quais também se inclui (sobretudo no caso do setor da alimentação) a logística e transporte de frio”.

Paralelamente, os serviços de logística promocional e de logística para e-commerce reforçam a sua tendência de crescimento: “hoje é claro que a nossa aposta nos serviços de logística promocional e de logística para e-commerce tem sido muito acertada, pois temos verificado um relevante aumento da sua procura nos últimos anos, motivado pelas mudanças nos hábitos de consumo”. Acresce agora que “a situação de pandemia obrigou a uma transformação neste sentido”, como nota o diretor geral de business development. Transformação essa que a Luís Simões soube antecipar, diz, dado que já integra este tipo de serviços nas suas operações diárias desde 2013.

Atividade em retoma

Quanto a perspetivas de negócio para 2020, e “como será compreensível”, a Luís Simões teve de “ajustar as expectativas que tinha em relação a este ano, já que ninguém poderia ter previsto o que ia acontecer e, sobretudo, as consequências que se fariam sentir em todos os setores, não só no nosso país como em todo o mundo”.

Ainda assim, a perspetiva, segundo Vítor Enes, é positiva. A empresa planeia, até ao final do ano, colocar em pleno funcionamento o último dos três armazéns que construiu no complexo de Guadalajara, que será totalmente automatizado e cujo sistema permitirá combinar diversas operações, aumentar a capacidade de armazenagem, e potenciar maior rapidez na preparação e entrega de pedidos. Por outro lado, a Luís Simões conta “acelerar, de alguma forma, a retoma da sua atividade graças ao regresso dos clientes sazonais de verão, cujas operações nos ajudarão a alcançar um novo equilíbrio, ainda que, seguramente, a atividade destes clientes vá estar longe dos níveis habituais”, preconiza o responsável.

Também na opinião do general manager da Greenyard, “é expectável que a sazonalidade assuma um padrão completamente atípico ao longo de 2020, não havendo os tradicionais picos da atividade de verão”. Porque a realidade é que “a diminuição das viagens, do turismo e da atividade económica em geral terá um efeito negativo nos volumes globais”.  E assim, “depois de uma concentração de consumos durante as primeiras duas semanas da pandemia, motivada pelo aprovisionamento de bens alimentares, vemos agora uma estabilização ou mesmo decréscimo de consumos e a uma concentração maior nos canais da distribuição moderna”, conclui.

Por todos estes motivos, a Greenyard crê que a atividade global dos seus clientes irá decrescer, avança Vitor Figueiredo. No entanto, a empresa perspetiva que “a anualização dos volumes de clientes que começaram em 2019, em conjunto com novas operações, resultarão num acréscimo, ainda que ligeiro, do volume de negócios”.

A Luís Simões registou 245 milhões de euros de faturação consolidada em 2019, um valor que se manteve em linha com as suas expetativas, tendo em conta os diversos investimentos realizados, sobretudo em Espanha. O “compromisso constante com a inovação permite-nos enfrentar este ano com a expectativa de que estamos preparados para satisfazer a procura logística de grandes clientes, com os níveis de exigência que tal implica”, antevê Vítor Enes, adiantando que a LS espera consolidar o seu crescimento em 2020.

Como explica, “apesar da natural e relevante quebra na atividade”, a empresa desenvolveu uma estratégia coordenada entre Portugal e Espanha que “permitiu fazer frente às novas exigências da procura, distintas do habitual, e ao mesmo tempo assegurar a proteção dos colaboradores e a excelência do serviço”.

Nos últimos meses a empresa dedicou-se também, com uma “força renovada” ao setor da logística de bens essenciais, para cumprir a sua missão de apoio a famílias e empresas, tendo, entre março e abril, gerido diariamente mais de 25500 toneladas de produtos, entre os setores da alimentação, bebidas e derivados de papel, afetando diariamente mais de 2250 veículos. Um exemplo mais de que, como defende Vítor Enes, “o setor logístico está a desempenhar um papel fundamental para garantir o bem-estar da sociedade durante a pandemia de COVID-19”.

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