Mobilidade

“Para reduzir emissões no setor da mobilidade, não basta introduzir novos modos de transporte”

“Para reduzir emissões no setor da mobilidade, não basta introduzir novos modos de transporte”

O CEiiA acolhe a sexta-edição do MobLab Congress no dia 27 de junho. Em antecipação da intervenção sobre os caminhos para a descarbonização e smart cities, Catarina Selada, diretora City Lab no CEiiA, explica como o centro de investigação tem trabalhado o conceito Sustentabilidade-como-um-Serviço, ao nível da mobilidade.  A responsável nota ainda o papel da mobilidade sustentável na construção de uma cidade inteligente.

Que papel tem vindo a ser desenvolvido pelo CEiiA na promoção e desenvolvimento da mobilidade sustentável? Que projetos destaca?

Há mais de 15 anos que o CEiiA trabalha na área da mobilidade: começou pelo setor automóvel, passando pela mobilidade elétrica até à Mobilidade-como-um-Serviço (MaaS). Atualmente, centra-se num conceito inovador – a Sustentabilidade-como-um-Serviço (SaaS), associado à quantificação e valorização das emissões de carbono evitadas com o uso de modos de mobilidade sustentáveis.

Neste contexto, o CEiiA visa contribuir para acelerar a neutralidade carbónica das cidades, onde se destaca a sua participação na Agenda BE.Neutral, uma agenda mobilizadora para a mobilidade sustentável, liderada pela NOS, que integra o desenvolvimento de novos veículos a serem industrializados e operados a partir de Portugal para o mundo. É o caso do BEN, que resulta da parceria entre o CEiiA, a Simoldes e a TMG, que se traduz num veículo leve, conectado e carbono-zero, a ser usado como um serviço, com a capacidade de quantificar, em tempo real, a redução de emissões nas deslocações.

Esta quantificação, realizada de forma transparente e fidedigna, permite a monitorização do grau de prossecução das metas climáticas das cidades, assim como o reporte e comunicação dessa informação aos agentes locais, como empresas, operadores, investidores e cidadãos.

“O setor da mobilidade pode ser uma alavanca, uma vez que representa 28% das emissões de carbono em Portugal, sendo um dos setores críticos de intervenção quando se pretende acelerar a transição para a neutralidade carbónica”

Guimarães, Lisboa e Porto estão entre as 100 cidade europeias escolhidas pela Missão Cidades para se tornarem inteligentes e com impacto neutro no clima até 2030. O que está a ser feito para cumprir esta meta?

Os governos locais deverão assumir um papel ativo no cumprimento dos objetivos do Acordo de Paris, sendo que mais de 1 000 cidades em todo o mundo se comprometeram com a neutralidade carbónica em 2050. Contudo, a Missão Cidades do Programa Horizon Europe apresenta metas mais ambiciosas ao criar uma rede de 100 cidades inteligentes e neutras em carbono até 2030.

As cidades da rede, incluindo as portuguesas, encontram-se a trabalhar nos designados “Climate City Contracts” que se traduzem no resultado de um processo iterativo, envolvendo todos os agentes locais e a sociedade civil, que inclui o estabelecimento do compromisso com a neutralidade carbónica e a elaboração de um plano de ação e do respetivo plano de investimentos 2030.

Contudo, a Comissão Europeia desafiou os estados-membros a criarem redes nacionais e regionais integradas por cidades com um forte compromisso com a neutralidade carbónica, incluindo as que se candidataram à Missão Cidades, mas que não foram selecionadas. É neste contexto que o CEiiA está a trabalhar com oito cidades da Região Norte que irão funcionar como ambientes de desenvolvimento, teste e demonstração dos produtos e serviços de mobilidade da Agenda BE.Neutral. Para além do Porto e Guimarães, a rede BE.Neutral inclui Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Braga, Vila Nova de Famalicão, Viana do Castelo e Oliveira de Azeméis.

“O CEiiA está a trabalhar com oito cidades da Região Norte que irão funcionar como ambientes de desenvolvimento, teste e demonstração dos produtos e serviços de mobilidade”

Agenda BE.Neutral

De que maneira pode a mobilidade desempenhar um papel nesse objetivo europeu? Na construção de uma smart city que papel é esperado da mobilidade?

O setor da mobilidade pode ser uma alavanca, uma vez que representa 28% das emissões de carbono em Portugal, sendo um dos setores críticos de intervenção quando se pretende acelerar a transição para a neutralidade carbónica. No âmbito da Agenda BE.Neutral defendemos que, para reduzir emissões no setor da mobilidade, não basta introduzir novos modos de transporte nas cidades, sendo essencial trabalhar na alteração dos comportamentos dos cidadãos e nas políticas e regulamentação.

De acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia de 2021, a nível global, as alterações comportamentais conduzem a uma redução de 4% de emissões até 2050, sendo que uma redução adicional de 55% de emissões necessita de uma combinação da introdução de tecnologias de baixo-carbono e do envolvimento ativo dos cidadãos.

Acresce que a descarbonização do setor da mobilidade, aliada à mobilidade partilhada e ao uso crescente de transportes públicos e modos suaves, induz co-benefícios noutros domínios, como a redução do número de veículos nas cidades e a melhoria da qualidade do ar, da segurança rodoviária, da saúde e do bem-estar das populações.

“As alterações comportamentais conduzem a uma redução de 4% de emissões até 2050”

Quem são os vossos principais parceiros?

O CEiiA trabalha com uma multiplicidade de parceiros com competências complementares, nomeadamente cidades, empresas e o sistema científico e tecnológico. Especificamente, o consórcio da Agenda BE.Neutral integra mais de 40 parceiros, onde se incluem universidades, centros de I&D, empresas do setor automóvel, operadores de mobilidade, operadores de energia e operadores de dados. Destacamos, como responsáveis por diferentes produtos e serviços da Agenda: NOS, Simoldes, TMG, Caetano Bus, Toyota, Ibérica, EDP, Siemens e a Universidade do Minho.

Contudo, na conceção dos seus produtos e serviços, o CEiiA trabalha, cada vez mais, com as novas gerações com vista a identificar as suas necessidades e expectativas em relação à mobilidade nas cidades do futuro, desenvolvendo ações de sensibilização, co-criação e mobilização, como os programas Steamers e SLI – Sustainable Living Innovators em colaboração com escolas e universidades.

Ainda na área da mobilidade, o CEiiA colabora com parceiros da Europa e do Brasil e, ainda, com organizações internacionais de referência, como as Nações Unidas (UN Global Compact), a Transport Research Arena (TRA) e a Global Enabling Sustainability Initiative (GeSI).

“O CEiiA trabalha, cada vez mais, com as novas gerações”

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