As preocupações ambientais estão na ordem do dia e o setor dos veículos pesados de mercadorias não foge à regra. Assim, o desafio de ir ao encontro das “exigências” europeias faz com que os fabricantes adaptem a oferta, embora se reconheça que o elétrico ainda não é solução.
Nos próximos anos o panorama dos pesados de mercadorias vai mudar. Pelo menos na Europa, dado que a União Europeia, depois de impor uma redução das emissões do dióxido de carbono nos ligeiros (37,5% em 2030) fez, agora, o mesmo para os camiões. A diretiva é clara. As emissões têm de ser cortadas em 30% nos próximos 11 anos.
Isto coloca alguns desafios ao setor. Desafios que, para já, aparentam ser quase impossíveis de atingir. Isto porque, por um lado, a frota reside em motores de combustão a diesel, e convém lembrar que a autonomia apresentada nos atuais modelos elétricos ainda é relativamente limitada. E isto nos veículos ligeiros. Se pensarmos que um pesado de mercadorias tem muito mais exigências rapidamente se verifica que as capacidades atuais não são comportáveis. Tanto mais que a rede de abastecimento ainda é muito limitada, no caso dos ligeiros, e inexistente, no caso dos pesados.
Para Daniel González, responsável pelo marketing e comunicação da Scania Ibérica, a solução, a curto e médio prazo, não passa por uma única tecnologia. “As soluções elétricas serão acompanhadas por outras soluções sustentáveis para responder às necessidades do mercado. Dependendo das características do trabalho e da aplicação, poderão ser escolhidas diferentes, desde a hibridação a combustíveis alternativos com o gás ou biogás, HVO, etanol ou até a eletrificação para aplicações urbanas”, afirma à LOGÍSTICA&TRANSPORTES HOJE.
O gás parece ser, a curto prazo, a solução mais viável. Mesmo porque, no que concerne aos veículos elétricos, como afirma Daniel González, “se falamos de um transporte real e rentável, ainda precisa de desenvolvimento em termos de autonomia da bateria ou sistemas de recarga rápida”. Isto embora o mercado se esteja a mexer. A Scania, por exemplo, participou na primeira rodovia elétrica na Alemanha e tem três autocarros (elétricos) a fazer testes em Östersund, no norte da Suécia.
Independentemente da solução (as incertezas ainda são muitas), o certo é que teremos, obrigatoriamente, de caminhar para um “transporte sustentável, mais respeitoso com o meio ambiente e com foco em combustíveis alternativos”. A União Europeia está a dar os primeiros passos, criando legislação no sentido de obrigar o mercado a, rapidamente, procurar e adotar soluções sustentáveis. Resta saber se os Estados e respetivas empresas conseguirão responder nos prazos estabelecidos pela União Europeia. A prova é que a European Automobile Manufacturers Association (ACEA) reagiu mostrando-se preocupada com as metas “exigentes” da EU em termos de emissões de CO2. Em comunicado o Erik Jonnaert, secretário-geral da ACEA referiu que “resta-nos pedir aos estados-membros que intensifiquem urgentemente os seus esforços para implantar a infraestrutura necessária para carregar e reabastecer os camiões movidos alternativamente, que precisarão ser vendidos em massa para que esses objetivos sejam alcançados”. E o maior problema prende-se mesmo com a falta de uma rede europeia de abastecimento.
E depois há a questão dos veículos autónomos. Uma situação que, para o responsável da Scania é, do ponto de vista tecnológico, uma realidade. “Já existem testes em ambientes fechados, que permitem que as empresas sejam mais eficientes”. E dá o exemplo da Scania. A empresa está a testar, no porto de Singapura, o transporte entre terminais. Mais recentemente iniciou, também, testes de autocarros autónomos na Suécia. A questão, para Daniel González, é que “para que isto seja implementado, é necessário mudar as leis que regulam o transporte, de modo que a condução autónoma seja desenvolvida em ambientes urbanos, por exemplo”. Sem esquecer a tecnologia de comunicação – 5G – necessária para que tudo isto funcione.
Portugal: frota renovada e aposta no gás
Nos últimos anos o parque nacional de pesados de mercadorias foi “significativamente renovado”, afirma Daniel González, explicando que isso acontece porque viemos de um parque envelhecido pela crise. O certo é que, segundo números divulgados pela ACAP, no mês passado verificou-se um aumento de 48,1% (face ao mês homólogo de 2018), tendo sido comercializados 471 veículos.
Os resultados obtidos pela Scania comprovam este dinamismo do mercado nacional. “O saldo é muito positivo. Estamos muito satisfeitos por ter mais uma vez alcançado a liderança, especialmente considerando o quão competitivo é o mercado em Portugal”, afirma Daniel González.
Quando se pensa nas formas alternativas de combustível e na especificidade do mercado ibérico a convicção do responsável de marketing e comunicação da Scania Ibéria é a de que, pelo menos a curto médio prazo, a opção passará pela adoção do gás. Isto porque, como refere Daniel González “no caso da Península Ibérica, temos uma posição privilegiada em relação ao gás, devido ao bom nível de desenvolvimento da sua infraestrutura”. Além de que “somos uma referência na Europa”.
Os próximos 11 anos trarão muitas mexidas no setor. A primeira motivação será a obrigatoriedade de diminuição de emissões imposta pela UE. À qual se junta uma maior consciencialização ambiental. No entanto ainda há muito por fazer. Quer ao nível da criação de uma rede europeia de abastecimento, quer no aumento da capacidade dos motores elétricos. Para já o que se prevê é que os primeiros projetos surjam nas redes urbanas ou em trajetos de menor distância. O certo é que os fabricantes estão a trabalhar no sentido de conseguir responder, quer às necessidades do mercado, quer às exigências da UE.