Logística

De Leixões à Guarda há um porto que quer ser motor de exportações

De Leixões à Guarda há um Porto que quer ser motor de exportações

O Porto de Leixões, o segundo maior do país, prepara-se para uma verdadeira evolução. Durante os últimos anos, fruto também de uma maior procura, foram vários os projetos levados a cabo para melhorar esta infraestrutura. Com ligação ao que será o primeiro porto seco do país, o futuro do porto passará também pela Guarda, que servirá de base para prolongar as operações e reforçá-las por via da ferrovia.

Com a sustentabilidade a tornar-se também eixo central no que é atualmente a atividade portuária, também a tecnologia tem permeado por completo este setor, sendo que, ainda em 2021 o Porto de Leixões modernizou-se para acolher a tecnologia 5G, reforçando valências em diversas áreas de atividade.

Como afirmou, à data, Hugo Bastos, diretor de sistemas de informação da APDL, “a tecnologia já é, hoje em dia, fundamental no suporte ao negócio dos portos. No entanto, temos vindo a assistir a uma transformação digital, em que à semelhança de outras indústrias e outros negócios, a introdução de novas tecnologias digitais de potencial disruptivo está a mudar radicalmente os portos”. Hugo Bastos fala, nomeadamente, do 5G, Blockchain, IoT, Smart Sensoring, Big Data, Analytics, IA (Machine Learning/Deep Learning), simulação, entre outras tecnologias, que estão “prestes a mudar radicalmente a forma como os portos operam, como são mais eficientes, mais verdes e como se integram nas cadeias logísticas”.

Na altura, segundo se explicava, a nova tecnologia permitiria “manipular drones de forma totalmente remota e em tempo real, transmitindo imagens de altíssima definição para a sala de comando e controlo do Porto de Leixões. Esta é uma solução tecnológica que desempenhará um papel preponderante neste porto, ao nível de segurança, custos, eficiência e previsibilidade.”

“O 5G, através de funcionalidades possibilitadas pela rede de quinta geração, no apoio à automação e a ações de inspeção, promove e aumenta a qualidade de deteções e a sua correspondente captação de dados para análise de melhorias futuras. Também através de sistemas inteligentes de deteção automática e vídeos de alta resolução, com identificação automatizada de intrusos nas instalações da APDL e com o envio imediato dessa informação para os responsáveis de segurança, o 5G tornará o Porto de Leixões num local muito mais seguro”, pode ler-se em nota alusiva à ‘estreia’ do 5G, no site do APDL.

“Resumindo, as tecnologias estão a mudar os portos, tornando-os mais sustentáveis, quer na vertente económica, uma vez que estarão mais integrados nas cadeias logísticas inteligentes, serão mais rápidos, mais fluídos, mais previsíveis, mais ágeis, mais seguros e com menor custo, quer na vertente ambiental, serão mais verdes, a caminho da descarbonização e no caminho de uma rede logística verde”, concluiu Hugo Bastos.

Modernização para aumentar de dimensão

O Porto de Leixões (APDL) tem vindo também a robustecer a sua infraestrutura. No final de 2022 era anunciada a aprovação da candidatura do projeto de reforço do cais norte da doca nº1, uma obra que, com um valor total de 25,6 milhões de euros obtinha, desta forma, uma comparticipação europeia de 50%, no total de 12,8 milhões de euros.

Números ‘à parte’, Nuno Araújo, presidente da APDL, sublinhava na altura que a aprovação da candidatura “reveste-se de um significado ímpar, atendendo ao facto de permitir a reposição das condições para a utilização plena de uma doca estratégica do porto de Leixões, com as vantagens competitivas que lhe estão associadas, recuperando um importante ativo para a operacionalidade e capacidade de receção de navios de maior dimensão”.

A substituição do atual cais, referia a APDL em nota publicada no seu site, permitirá “o alinhamento e uma frente acostável contínua no lado norte do porto de Leixões a jusante da ponte móvel, a preparação para o aprofundamento da área junto ao cais de -10 metros para -12 metros (nível zero hidrológico), o alargamento da “boca” da rampa ro-ro contígua para 36 metros e o reforço da capacidade do terrapleno de apoio ao cais, de 5 toneladas por m2 para 8 toneladas por m2″.

Mas foi ainda durante 2021 que também o processo de ‘tecnologização’ começou a avançar de forma mais profunda. No final de novembro desse ano, a Siemens e a APDL garantiam um acordo para “a renovação de um pórtico de cais STS (ship to shore) e três pórticos de parque RMG (rail mounted gantry) no Porto de Leixões”, obras que permitiram “ substituição dos sistemas de acionamento pelos novos inversores de última geração, mais eficientes, SINAMICS S120, bem como dos sistemas de automação existentes, pelo SIMATIC S7 Fail-Safe, que vai conferir um maior nível de segurança às operações dos pórticos.”

“A par destas intervenções, a Siemens Portugal vai fornecer ainda sistemas anticolisão e de supervisão embarcados e remotos. A multinacional também equipará estes pórticos no Porto de Leixões com novos sistemas de alarme para deteção de incêndios e sistemas de acesso de operadores via RFID (Radio Frequency Identification)”, acrescentava-se em nota publicada pela Siemens Portugal.

Porto seco a chover no molhado?

Com o transporte de mercadorias a ser um dos eixos sobre o qual se acalentam fortes expetativas no contributo de redução de emissões carbónicas, mas com os Portos e a Ferrovia a assumirem um papel cada vez mais central, o Governo entregou a gestão (decreto de 4 de março de 2022) e promoção do primeiro porto seco do país à APDL. Após um processo burocrático, que estabeleceu, por exemplo, a determinação do que é um porto seco, o Governo comprometeu-se este ano, numa reunião na Câmara da Guarda, em 28 de abril, que o Porto Seco da Guarda era para avançar.

Em comunicado, na data, a autarquia, após reunião com o ministro das infraestruturas João Galamba, adiantava que da reunião, “saiu a garantia do governo de que o Porto Seco iniciará em breve a sua instalação junto à Plataforma Rodoferroviária da Guarda”. Com obras ainda a decorrer relativamente ao melhoramento da linha da Beira Baixa, explicava-se que após a saída, do local, do estaleiro de construção, a obra deveria dar os seus passos iniciais de instalação.

Na altura, Sérgio Costa, presidente da Câmara, referiu, após a reunião com João Galamba, que a publicação em Diário da República, “é mais um passo para a concretização do Porto Seco na Guarda e já nada fará recuar” o projeto. Quanto à localização definitiva, o autarca garantia que seriam dados os passos necessários, nomeadamente a avaliação ambiental, projeto de execução, novo estudo de impacte ambiental e concurso da obra.

A criação de um porto seco na Guarda, que será o primeiro do país, transformará a cidade “num eixo fundamental do posicionamento na centralidade do interior da península, criando uma âncora logística fundamental no interior do país”, com “impacto relevante no produto interno bruto nacional» e motivando também “a aceleração da economia local”, na medida em que as operações aqui centralizadas vão “servir as regiões centro e norte e os territórios fronteiriços de Espanha e de Portugal”.

Em maio de 2023, participando no Seminário “Ensino, Georreferenciação e Automação no Território”, evento que decorreu, precisamente no Politécnico da Guarda, Pablo Hoya, gerente da Zaldesa – entidade responsável pela Plataforma Logística-Intermodal de Salamanca, apresentou o projeto do Porto Seco de Salamanca, garantindo que reconhece o mesmo potencial ao Porto Seco da Guarda: “Quando abordámos o projeto do Porto Seco de Salamanca vimos uma oportunidade porque o corredor Atlântico [o canal de mercadorias dos portos peninsulares para a Europa além Pirinéus] passa por ali, temos rodovia, ferrovia e infraestruturas”, afirmou o gestor espanhol. “Na Guarda, na minha opinião, é a mesma coisa”. Pablo Hoya defendeu a importância de Portugal e Espanha investirem na ferrovia: “Este é o futuro do setor logístico na Península Ibérica”, concluiu.

Relembre-se que o Porto Seco da Guarda ficará situado a 200km de Leixões.

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