Tecnologia

“Acredito que a transição energética da Europa não deixará de ser feita”

José Maria Sacadura, CEO da Power Dot, start-up portuguesa responsável pela instalação e gestão de carregadores elétricos, esteve em entrevista à Mob Magazine, abordando a estratégia de crescimento da empresa entre outros temas.

Presente em diversas geografias, a empresa lusa continua empenhada em desenvolver a sua rede de postos, sendo que, para tal, tem um ambicioso projeto até 2030, altura em que conta passar a fasquia dos 25 mil carregadores ativos.

Com a guerra na Ucrânia a complicar as contas da transição energética, nem por isso José Maria Sacadura deixa de acreditar numa Europa mais verde, até porque há compromissos coletivos assinados.

Confira a entrevista em baixo.

– Farão em 2022 quatro anos de atividade. Que balanço faz destes primeiros anos de atividade?

Fazemos um balanço muito positivo daquilo que temos conseguido ao longo destes três quase quatro anos. A nossa essência ainda se mantém: somos investidores, instaladores e operadores de pontos de carregamento para veículos elétricos, essencialmente em espaços de acesso público, como, por exemplo, centros comerciais, supermercados, retail parks, restaurantes e municípios também. São alguns exemplos de onde as pessoas também fazem a sua vida e usufruem de serviços. Portanto, tem sido muito esta a nossa missão, de querer investir em infraestrutura necessário na transição para a mobilidade elétrica. Acreditamos que estes pontos são chave para esta transição.

– Têm já presença em diversos países além de Portugal. Relembre-nos como começou esta vossa aventura, como foi este crescimento para fora de portas e quais os objetivos, por exemplo, para 2030 (altura em que a Europa quer já ter dado passos significativos para a sua eletrificação automóvel)?

A Power Dot começou através de uma identificação de uma necessidade de mercado, entrando logo com um modelo de negócio disruptivo e inovador, de total investimento na infraestrutura, tirando grande parte do risco dos proprietários dos parques e gerindo nós toda a operação dos postos. Portanto, fomos identificando o crescimento da mobilidade elétrica e percebemos que para crescer era necessário ainda mais infraestrutura. Isto para que as pessoas tenham muita confiança na rede e que possam carregar onde quer que façam a sua vida. Portanto, foi muito este o nosso objetivo: investir e criar mais e mais infraestrutura. Atualmente temos, em operação e pipeline, cerca de 3000 pontos de carregamento, e a previsão é que consigamos, até 2030, ter 27500 pontos de carregamento a nível europeu. Portugal foi o primeiro mercado. Começámos a nossa expansão internacional no final de 2020, início de 2021, para mercados como França, Espanha, Polónia. O objetivo é sempre o mesmo: investir em ter cada vez mais carregadores. Acreditamos que esta meta será real.

– Anunciaram recentemente uma parceria com a MiiO… como está a resultar e para onde esperam evoluir? Há outros novos projetos a surgir?

O projeto com a MiiO é muito recentemente. Começámos sensivelmente há dois meses… O que posso dizer é que tem sido muito positivo. Queremos dar a possibilidade aos utilizadores de terem muito mais possibilidades de iniciar carregamentos. Queremos dar uma universalidade ainda maior, mesmo para pessoas que não tenham imediatamente um cartão ou aplicação instalada. A partir do QR conseguem iniciar a carga e pagar. O grande objetivo é garantir a universalidade do acesso aos carregadores, mesmo para estrangeiros que nos possam visitar e não consigam ter logo um cartão. O que podemos ambicionar é uma expansão da nossa rede e estamos a trabalhar para isso. Vamos ter muito mais carregadores até ao final do ano, com potências ainda maiores. Serão carregadores já ultra-rápidos. É para aí que também estamos a direcionar-nos.

– Sentem que há os incentivos necessários à mudança, por exemplo, em termos de regime fiscal em Portugal?

Faltam. Vemos um novo aumento que é positivo, mas penso que podíamos ser mais ambiciosos. Na questão da atratividade faltam incentivos fiscais, de aquisição e mesmo incentivos de carregamento para que isto seja mais atrativo e haja uma grande conversão. A Power Dot opera internacional e por isso estamos a par de várias medidas implementadas noutros países. Podemos dizer que há países que são mais atrativos nesta transição com, por exemplo, cheques de aquisição, incentivos nos pontos de carga, etc. Acho que há um trabalho ainda a fazer, mas para já tem sido bom. Tem sido bom mas ainda pode ser melhor.

– Com um cenário de grande incerteza na Europa, com o custo da eletricidade e dos combustíveis a dispararem, não temem ser afetados por esta situação?

É uma situação de contexto internacional, é algo que foge muito ao nosso controlo. Em termos de investimento e instalação de carregadores estamos completamente focados. Acreditamos que o tema da energia, mas também dos combustíveis, que é equiparável também ao que é a mobilidade, será um tema que possa ser resolvido a curto prazo. Neste sentido, se tudo correr bem, as coisas irão alinhar-se. Estamos a passar por uma estagflação, mas acredito que há interesse para se fazer a transição para a mobilidade elétrica e tudo aponta para aí. Quer em termos de fabricantes automóveis, quer em termos de regulação, está tudo a acontecer e temos de estar direcionados para termos economias de escala e preços de energia mais competitivos. Estamos a passar por uma crise na combustão e energia, mas tudo leva a crer que será temporário.

– Esta situação tem o potencial de atrasar a transição energética?

O foco tem sido outro, infelizmente, mas acredito que há sempre espaço para esta transição. Não podemos ficar dependentes dos combustíveis fósseis, acho que isso também ficou claro. Novas formas se irão arranjar para conseguirmos então energias mais limpas e mais competitivas. Apesar de estarmos muito focados no tema guerra, acredito que a transição energética da Europa não deixará de ser feita. Tem de ser feita e já há vários compromissos para o fazer.

– Como sente Portugal, face aos seus congéneres, em termos de eletrificação?

Portugal tem uma particularidade que é ter iniciado muito precocemente a sua atividade neste âmbito. Já faz quase uma década de que instalámos o primeiro projeto-piloto de mobilidade elétrica e fomos bastante pioneiros neste sentido, com a proliferação de infraestrutura em vários municípios do país, mesmo antes de outros países. Agora estamos a assistir a uma ultrapassagem. Já começa a haver mais e melhores soluções tecnologicamente avançadas lá fora, com envolvimento de várias entidades na área regulamentar da atividade… Essas iniciativas fazem com que as iniciativas de mobilidade elétrica cresçam muito nestes mercados e cá ainda percebemos que existe um peso grande de burocratização. Já tem havido alguma simplificação, mas pode fazer-se muito mais. Na comparação entre os diversos mercados, noutros mercados há áreas que avançam mais rapidamente do que aqui.

– Por outro lado, grande parte do problema dos transportes está relacionado com o transporte de cargas. Estão também a desenvolver soluções neste sentido?

Estamos sempre abertos a novas soluções de eletrificação. O nosso foco tem sido muito este de espaços comerciais, abertos, com serviços associados. Muitas pessoas não têm estacionamento à frente de casa, nem garagem… mesmo que tenham precisam de ir carregando onde fazem a sua vida. Queremos acelerar ainda mais a mobilidade elétrica em Portugal e também há o transporte de mercadoria pesada. Ainda não tem sido muito este o nosso foco.

– Mantêm também uma parceria com a Uber. Como está a correr esta operação?

A Uber é nosso parceiro já quase desde o início da nossa atividade. O nosso foco com eles tem sido oferecer soluções de carregamento específicas para as necessidades dos parceiros e motoristas da Uber. Queremos melhorar toda a experiência de utilização dos carregadores por parte destes grupos, criando também alguns serviços associados, não só especificamente sobre carregamento, mas também o acesso a internet, zonas de descanso, etc. Queremos dar uma melhor experiência e dar uma melhor experiência e fazer um preço mais competitivo que o da rede pública. Temos seis hubs de carregamento e 14 pontos de carregamento rápido de acesso exclusivo a estes motoristas. Estimamos muito a nossa parceria com a Uber e queremos dar a melhor experiência aos seus parceiros.

– A manutenção dos postos de carregamento é um dos pontos-chave no sucesso destas iniciativas. A Siemens está a testar um posto que não carece de infraestrutura subterrânea, tornando mais fácil a sua instalação e manutenção. Estamos também a progredir neste domínio (tecnológico – infraestrutura)?

Acho que tem surgido novas soluções no que toca a este tipo de infraestrutura. Portanto, a Power Dot também quer estar sempre na vanguarda da tecnologia e nas soluções de carregamento e, por isso, acreditamos que as coisas têm tendência a ser mais rápidas e com soluções cada vez mais adequadas a todo o contexto da infraestrutura do local.

– São uma start-up completamente portuguesa. Pretendem manter este ‘posicionamento’ ou estão abertos a possível investimento estrangeiro para crescerem mais depressa?

São informações confidenciais que não posso revelar por questões concorrenciais, mas a mensagem é que estamos focados em crescer, queremos crescer e vamos crescer muito nos próximos tempos.

 

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