Descarbonização

Biometano: a revolução ‘verde’ que transforma resíduos em energia

Plano de Ação para o Biometano tem de estar pronto no final de 2026 iStock

A transformação de resíduos orgânicos em energia renovável está a ganhar protagonismo como uma solução sustentável para os desafios ambientais e económicos da atualidade. O biometano surge como uma alternativa promissora, capaz de descarbonizar setores críticos e fechar o ciclo de sustentabilidade.

A transformação de resíduos orgânicos em energia foi o mote da sessão “Dos Resíduos Orgânicos à Energia Limpa” em que Cristiano Amaro, responsável pelo setor de biometano na Capwatt, falou sobre o papel do biometano enquanto alternativa renovável para a descarbonização de setores industriais que apresentam maiores dificuldades em adotar energias elétricas. “O biometano pode ter um papel essencial, oferecendo uma solução prática e de fácil implementação para setores que dependem de energia térmica de alta temperatura e para os transportes rodoviários de longa distância”, afirmou, referindo-se aos chamados hard to abate.

Foi no decorrer do Innovators Fórum’24 que Cristiano Amaro partilhou a visão desta empresa portuguesa que atua no setor energético, sobre o uso do biometano. O especialista falou da importância do biometano no contexto europeu, apontando o plano RepowerEU como um exemplo claro da aposta nesta fonte de energia e explicando que a Comissão Europeia definiu como objetivo produzir 35 mil milhões de metros cúbicos de biometano por ano até 2030. “Em 2022 a produção era de apenas 4,2 mil milhões. Este crescimento é possível se reconhecermos o valor das externalidades positivas do biometano, como já acontece em países como Alemanha, França, Itália e Dinamarca”, contextualizou.

O especialista apontou igualmente a vizinha Espanha como um país com enorme potencial inexplorado no setor. E, por forma a ilustrar o panorama do país, Cristiano Amaro explicou que em 2020, a Espanha registava uma população de 32 milhões de suínos, destinados à produção de cinco milhões de toneladas de carne por ano, mas que geraram também 60 milhões de toneladas de chorume. “Estes resíduos representam um problema ambiental significativo se não forem devidamente tratados, mas, ao mesmo tempo, constituem uma oportunidade extraordinária para o desenvolvimento do setor de biometano”, afirmou, acrescentando que Espanha tem condições ideais para expandir a produção de biometano, especialmente devido à dimensão do seu setor agropecuário, o que poderia colocá-la entre os países líderes na Europa, ao lado de Alemanha, França e Itália.

Remetendo depois para o cenário nacional, Carlos Amaro revelou que em Portugal, mais concretamente em Aljustrel, está a ser construída uma central de produção de biometano, que, como afirmou o orador, representa um passo significativo no desenvolvimento e aproveitamento do biometano. O projeto está a ser levado a cabo pela Capwatt e Cristiano Amaro explica-o como um exemplo concreto e mensurável. “Estamos a construir uma unidade com dois hectares que produzirá 57 gigawatts-hora de biometano por ano. Isto é suficiente para abastecer 97 camiões de mercadorias, evitando a emissão de 24 mil toneladas de CO₂ equivalente por ano”, revelou. Esta unidade aproveita resíduos locais, como mil toneladas anuais de águas residuais da indústria do azeite e 20 mil toneladas de estrume de galinha, demonstrando como o biometano pode transformar um problema ambiental numa solução sustentável. “Este exemplo mostra que, também em Portugal, o biometano não é apenas uma ideia, mas uma realidade concreta com impacto direto no ambiente e na economia”, sublinhou Cristiano Amaro.

Procurando esclarecer a assistência sobre o processo de obtenção do biometano e os materiais utilizados, Cristiano Amaro explicou que é “através da digestão anaeróbia, que os resíduos orgânicos são decompostos por bactérias em ambiente sem oxigénio. O que resulta num gás bruto, o biogás. Este, após purificação para remover impurezas, transforma-se em biometano, que pode ser injetado nas redes de gás natural ou utilizado como biocombustível para veículos pesados”, esclareceu. O especialista acrescentou ainda que os subprodutos deste processo, como fertilizantes orgânicos, desempenham um papel crucial na sustentabilidade agrícola, ao substituírem os fertilizantes convencionais e reduzirem a pegada de carbono no setor primário.

Para terminar, Cristiano Amaro deixou uma visão abrangente do impacto do biometano no futuro energético e ambiental. “Não estamos apenas a falar de uma nova fonte de energia, mas de uma mudança de paradigma. Os resíduos deixam de ser um problema e passam a ser parte da solução, contribuindo para um sistema energético mais sustentável e uma economia mais circular”, afirmou, apelando à mobilização dos setores público e privado para acelerar a implementação destas soluções.

 

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