Reciclagem

Cientistas da Universidade de Aveiro alertam para ‘lixo da pandemia’

Cientistas da Universidade de Aveiro alertam para ‘lixo da pandemia’

“É urgente encontrar alternativas ao uso de máscaras e luvas descartáveis”. O apelo é de uma equipa de cientistas da Universidade de Aveiro (UA), que nos últimos meses tem estudado o aumento de lixo e o recuo generalizado na gestão sustentável de resíduos de plástico.

Apesar de, numa primeira fase, o confinamento ter sido benéfico para o meio ambiente, devido à redução da poluição atmosférica, nesta segunda fase tem-se verificado um grande aumento da quantidade de plásticos não reutilizáveis – entre máscaras, luvas e outros materiais de proteção –, que estão já espalhados no ambiente.

Alertados para o problema, por verem os espaços públicos inundados por máscaras e luvas abandonadas, os investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) – Joana Prata, Ana Luísa Silva, Armando Duarte e Teresa Rocha-Santos – publicaram três artigos científicos, realizados em parceria com a Universidade de Dalhousie, Canadá, o Instituto de Diagnóstico Ambiental e Estudos da Água, Espanha, e a Beijing Normal University, China.

Ana Luísa e Joana Prata, primeiras autoras destes estudos, estimaram, com base em estratégias de saúde pública, que todos os meses são necessárias 129 mil milhões de máscaras e 65 mil milhões de luvas a nível mundial. Estes números não contabilizam, ainda assim, as batas descartáveis e outros materiais de proteção, cuja “gestão desadequada tem como resultado uma contaminação ambiental generalizada”.

Para contornar o problema ambiental, as cientistas avisam que é urgente substituir os descartáveis por reutilizáveis e que, dentro do possível, esses materiais devem ser reciclados depois da sua desinfeção ou quarentena.

De acordo com a análise realizada, em muitas áreas do mundo, verificou-se uma reversão de leis e regulamentos que visavam a redução do uso de plásticos de utilização única, como é o caso das taxas sobre sacos de plástico finos.

“Os próprios consumidores passaram a procurar alimentos embalados em plástico devido à preocupação com a possível transmissão do vírus através de objetos e maior prazo de validade”, dizem as investigadoras.

O aumento de consumo de plásticos “foi observado em embalagens alimentares, como de takeaway, e no material de proteção pessoal”.

A gestão dos resíduos de plástico também sofreu grandes alterações com a escalada da pandemia e, segundo indicam as investigadoras, “em muitas áreas do mundo a reciclagem dos plásticos parou, noutras as entidades debatiam-se com o tratamento adequado dos crescentes resíduos hospitalares potencialmente infeciosos”.

“Não deveríamos descontinuar uma estratégia ambiental a longo-prazo quando é compatível com as atuais medidas de combate à pandemia e contribui para a futura preservação da saúde humana. Por exemplo, não há evidencias que a utilização de luvas descartáveis seja mais eficaz do que a correta higienização das mãos”, exemplificam.

As cientistas recomendam, por isso, que o uso dos plásticos seja feito de uma forma responsável, visando a otimização da sua produção, utilização ponderada, substituição do descartável pelo reutilizável, e gestão de resíduos eficaz e sustentável como refere a investigadora Ana Luísa.

“Teremos de delinear estratégias para uma produção e utilização sustentáveis dos materiais plásticos em situação de emergência. Os plásticos podem ser bons ou maus, tudo depende da forma como são utilizados e descartados”, concluem.

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