Investigadores da Universidade de Tecnologia de Chalmers, na Suécia, publicaram um artigo que sugere uma nova forma de reciclar artigos de saúde em plástico de utilização única – desde luvas a equipamento cirúrgico – utilizando uma técnica em que o material em questão é aquecido e convertido depois em blocos químicos que podem posteriormente ser utilizados na produção de novo plástico.
A tecnologia desenvolvida chama-se “reciclagem termoquímica” e baseia-se num processo chamado “steam cracking”. Este processo decompõe os resíduos, misturando-os com areia a temperaturas que vão até 800 °C. As moléculas de plástico são então quebradas e convertidas num gás.
“Este processo pode ser comparado a um ‘martelo térmico’ que esmaga as moléculas e, ao mesmo tempo, destrói bactérias e outros microorganismos”, afirmou Martin Seemann, Professor Associado da Divisão de Tecnologia Energética da Chalmers. E continua: “o que resta são diferentes tipos de compostos de carbono e hidrocarbonetos, que podem depois ser separados e utilizados na indústria petroquímica, nomeadamente para substituir materiais fósseis que são atualmente utilizados na produção”.
Para testar a tecnologia na vida real, os investigadores levaram a cabo dois projetos diferentes em paralelo. No primeiro projeto, alguns diferentes tipos de produtos, como máscaras faciais e luvas de plástico, passaram pelo processo. No segundo, foi criada uma mistura que representa a composição média dos resíduos hospitalares dos hospitais. Esta mistura continha cerca de dez materiais plásticos diferentes, assim como celulose.
De acordo com o estudo, os resultados têm sido “consistentemente positivos” em ambos os projetos, o que demonstra o grande potencial desta nova tecnologia.
“O que torna esta tecnologia tão interessante é a sua capacidade em lidar com os desafios ambientais que associamos aos produtos médicos descartáveis. A reciclagem termoquímica não só resolve o problema como também facilita a recuperação de átomos de carbono valiosos. Esta realidade está totalmente em conformidade com os princípios da economia circular e proporciona uma solução sustentável para a questão urgente da gestão dos resíduos hospitalares”, afirmou Judith González-Arias, líder de um dos projetos.
“Acreditamos que esta é, de facto, a única opção para que estes tipos de resíduos se tornem realmente circulares”, afirmou Martin Seemann. “É tão eficiente que, depois de o material ter sido decomposto a nível molecular, a indústria química pode transformá-lo novamente em material virgem”.
Os artigos de saúde descartáveis têm vindo a tornar-se num problema ambiental a nível global, uma vez que o seu uso aumentou significativamente nos últimos anos e, atualmente, não existem métodos para reciclar estes resíduos médicos à base plástico, explicam os cientistas.
“Na melhor das hipóteses, estes resíduos são incinerados e, em muitos países, acabam em aterros sanitários, abrindo a possibilidade de substâncias tóxicas serem libertadas para o meio ambiente. A pandemia de Covid-19 contribuiu para um aumento significativo da utilização destes artigos descartáveis”, explicam os investigadores.
Nas políticas de economia circular, os resíduos hospitalares são frequentemente ignorados, sublinha o estudo, explicando ainda que os artigos de saúde descartáveis são, por norma, compostos por vários tipos de plástico que não podem ser reciclados com a tecnologia atual. Além disso, a análise também indica que estes artigos devem igualmente ser considerados contaminados após utilização e, por isso, precisam de ser manuseados de forma a evitar riscos de propagação de potenciais infeções.
No que diz respeito à produção destes itens, os investigadores referem que também não é possível utilizar plástico reciclado, “uma vez que os requisitos de pureza e qualidade são muito elevados para os materiais destinados a utilização médica”.
“Os mesmos requisitos rigorosos de pureza e qualidade são aplicados às embalagens de alimentos. Por esta razão, a grande maioria do plástico recolhido das embalagens é atualmente incinerado ou convertido em artigos que permitam uma qualidade inferior”, concluiu Martin Seemann.