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“Se temos mais empresas e emprego, deve-se muito aos imigrantes que estão a chegar”

“Se temos mais empresas e emprego, deve-se muito aos imigrantes que estão a chegar” iStock

Numa altura em que Portugal tem pendentes mais de 400 mil pedidos de imigrantes, a entrada de mais cidadãos estrangeiros no país tornou-se num tema (ainda mais) polarizador. Há, porém, um município luso que já é exemplo no que toca a este tema: o Fundão. Em declarações à Sustentável, o presidente da Câmara explica que dar formação a estas pessoas que vão chegando ao país é a chave para o sucesso da sua integração e atira que sem elas a região teria mais desemprego, já que as empresas teriam sérias dificuldades em sobreviver sem trabalhadores.

“Hoje há mais gente convencida de que, se temos mais empresas e emprego, deve-se muito aos imigrantes que estão a chegar ao Fundão. Se não existissem, algumas das empresas já teriam fechado, porque não teriam pessoas. O desemprego seria mais alto”, sublinha Paulo Fernandes, que reconhece que o preconceito contra os imigrantes ainda persiste, mas vai sendo combatido “todos os dias” também através da consciencialização deste impacto positivo destas pessoas no mercado de trabalho local. “Obviamente que não posso dizer que não existe alguma camada da população que tenha preconceitos. Mas diria que essa é uma batalha que já vamos vencendo”, assinala o autarca.

De acordo com a Câmara Municipal do Fundão, 70% dos imigrantes considerados “mais vulneráveis” já estão completamente integrados e autonomizados, isto é, já têm emprego e casa própria. A este dado soma-se um outro: enquanto nos campos de migrantes espalhados pela Europa o prazo médio de autonomização é superior a quatro anos, no Fundão nem chega a um ano. “Isso torna-nos um dos exemplos a nível nacional e europeu”, defende Paulo Fernandes.

Quanto ao segredo para esse sucesso, o autarca destaca, além das conexões com as empresas da região (a Câmara tem, neste momento, 11 mediadores que ajudam a fazer a ponte entre os empregadores e os imigrantes), a “formação holística intensiva”. Ou seja, não basta ensinar a falar português, mas importa também dar habilitações para “funções de valor acrescentado”, que estimulam a empregabilidade destas pessoas. “Preparamos as pessoas para rapidamente poderem integrar o mercado de trabalho, quer seja na agricultura, na indústria, ou no turismo”, explica o presidente da Câmara, que entende que o Fundão está, deste modo, a criar um “ecossistema de inclusão”.

A nível nacional, convém lembrar que o Governo lançou recentemente um novo plano para as migrações, de modo a travar a entrada “sem regras” de indivíduos, ainda que se reconheça a necessidade de mãos estrangeiras para a economia nacional. Paulo Fernandes atira que há “uma parte que vai no sentido certo”, referindo-se à inclusão de vários Ministérios nesse plano, mas mostra-se preocupado, por um lado, com a sobrecarga da rede consular, e, por outro, com as barreiras que estão a ser criadas. “É preciso ter muito cuidado. Por cada barreira que colocamos, é o que a dita economia paralela e o tráfico mais gostam”, alerta. Pede ainda que o Executivo tenha “cuidado para que ninguém fique para trás”, apelando a que haja “muita atenção” na fase de transição.

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