A consulta pública do Plano Ferroviário Nacional (PFN), que se iniciou a 17 de novembro, terminou no dia 28 de fevereiro. Recorde-se que o PFN tem como objetivo que, até 2050, as dez maiores cidades portuguesas venham a ser servidas por comboios de alta velocidade, além de ligações a Espanha. Saiba agora o que algumas associações e municípios defendem para o plano.
O especialista em transportes da Universidade do Algarve, Manuel Tão, considerou, em entrevista à Lusa, que o Plano Ferroviário Nacional (PFN) carece de um plano diretor financeiro e corre o risco de ser “um lindo mapa” que dificilmente se materialize.
“Se nós temos um conjunto de intenções, que estão vertidas num mapa, ao qual chamamos Plano Ferroviário, mas não temos definido à partida o que é um plano diretor financeiro que balize, não digo a totalidade, mas, digamos, por exemplo, metade do que se propõe fazer, corremos o risco de ter um lindo mapa com linhas e trajetos para todo o lado, mas que dificilmente se vão materializar”, defendeu o especialista.
Apesar disso, Manuel Tão congratula a existência de um plano e a retoma do conceito de rede.
Os inputs dados ao Plano Ferroviário Nacional
A ONG ZERO defende que o plano deve ser colocado “rapidamente nos carris”. A associação elogia que só a “simples existência de um plano ferroviário nacional é já um importante passo no sentido de recuperar o conceito de rede ferroviária como estrutura fundamental de um modelo de mobilidade sustentável”.
“Depois de duas décadas de estagnação, é muito positiva a densificação da rede ferroviária prevista nas áreas metropolitanas, sobretudo se for bem articulada com as redes de metropolitanos e com outros modos de transporte coletivo regular em sítio próprio, modos partilhados a pedido e modos suaves”, pode ler-se em comunicado.
Entre os “sinais amarelos” que a ZERO aponta estão a falta de prioridade dada à autoestrada ferroviária entre Lisboa e Madrid, a falta de uma solução funcional para a Área Metropolitana do Porto, a articulação com o transporte rodoviário de mercadorias e melhorias à velocidade nas linhas do Algarve e do Oeste.
Por sua vez, a MUBi considera que o Plano Ferroviário Nacional “deve potenciar sinergias com os modos ativos de transporte”. A associação recomenda que o desenvolvimento do PFN promova a realização e implementação de Planos de Mobilidade Urbana Sustentável por todos os municípios com estações ferroviárias nos seus territórios, promovendo, por exemplo, a eliminação ou redução do estacionamento automóvel junto às estações ferroviárias em áreas urbanas densas, a acessibilidade em modos ativos e transportes coletivos e a intermodalidade do comboio com estes.
Rui Igreja, dirigente da MUBi, disse que “é necessário que seja fácil e seguro combinar o uso da bicicleta com o comboio, como acontece em outros países europeus. A bicicleta aumenta significativamente a área de captação das estações, e esta é uma das principais soluções para reduzir a elevada dependência do uso quotidiano do automóvel em Portugal”.
Outra associação que já revelou o seu contributo foi a Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (Sedes), que exige que o traçado ferroviário Porto-Zamora-Madrid “seja considerado formalmente, de forma inequívoca”.
Para os membros representativos da Sedes, através da sua delegação em Trás-os-Montes, “decidir neste momento pelo corredor Aveiro-Salamanca, tendo como base uma apreciação feita há 20 anos nesse sentido, hoje potencialmente desatualizada, é decidir um investimento de quatro mil milhões de euros sem a devida racionalidade técnico-científica e económica”.
A Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL) pretende que o Plano Ferroviário Nacional contemple uma plataforma logística no concelho de Pombal, considerando este um “projeto estruturante para a dinamização do transporte de mercadorias e no apoio à dinâmica empresarial da região”.
Por fim, a Câmara Municipal de Beja elencou que, para o concelho de Beja, a primeira prioridade identificada passa pela “necessidade de eletrificação do troço Beja-Casa Branca, com ramal ao aeroporto”.
O autarca Paulo Arsénio defende ainda a ligação em velocidade alta da solução proposta de uma nova linha Évora-Beja-Faro”.
“Esta linha ligaria três capitais de distrito e dois aeroportos, permitindo escoar, sobretudo para sul, muitos turistas/passageiros para Faro cujo aeroporto está próximo de atingir o limite de passageiros que comporta”, frisa o responsável.