O aumento dos preços da energia teve um impacto direto na crescente, embora variável, utilização de energia renovável em edifícios, atividades industriais, transporte e agricultura. A conclusão é da REN21, comunidade global de atores em energias renováveis, no seu primeiro módulo do Renewables Global Status Report 2023. O relatório explora as atuais tendências e oportunidades na transição para as energias renováveis.
Segundo explicado em comunicado, os fortes efeitos da inflação nestes setores, impulsionados pela crise energética, desencadearam políticas públicas fundamentais concebidas para contrariar as perturbações do mercado e acelerar o crescimento da produção, utilização e produção local de energia renovável.
“É uma história clássica de desafios transformados em oportunidades”, afirma a diretora executiva da REN21, Rana Adib. Segundo a responsável, a chamada “policrise” global fez com que os decisores políticos e líderes dos setores mais intensivos em energia percebessem os benefícios das energias renováveis como fonte local de energia que garante a segurança do abastecimento e custos estáveis.
“Dizemos isto há décadas; é lamentável que tenha sido necessária uma crise para que o mundo finalmente considerasse as energias renováveis nas suas operações industriais, nos edifícios, nos transportes e na agricultura”, acrescentou Rana Adib.
Entre os pacotes políticos destacados pelo relatório estão: os 500 mil milhões de dólares anunciados pelos Estados Unidos como parte da sua Lei de Redução da Inflação (IRA); o plano REPowerEU da Comissão Europeia; e os planos abrangentes de hidrogénio renovável da Índia.
Portugal, a par da Turquia e da Espanha, destaca-se por possuir objetivos ou políticas na construção, indústria, transportes e agricultura.
Mudanças por setor
Construção
No setor da construção, existiu uma substituição das caldeiras a gás natural por bombas de calor elétricas. 2022 foi um ano recorde nas instalações de bombas de calor, com um crescimento de 10% em relação ao ano anterior.
“Este crescimento foi mais notável na Europa, onde os mercados cresceram mais 38% à medida que os agregados familiares têm procurado cada vez mais alternativas de eficiência e fiabilidade superiores às que geram calor com combustíveis fósseis”, explica o secretário-geral da Associação Europeia de Bombas de Calor, Thomas Nowak.
Indústria
As indústrias consumidoras de energia apostaram na compra de energia a fornecedores de energias renováveis através de Contratos de Aquisição de Energia (CAE).
Os CAE na Europa aumentaram 21% em 2022, excedendo em seis vezes o crescimento recorde da capacidade de energia renovável instalada pelas empresas de serviços públicos nesse ano para fornecer eletricidade.
“Se há um resultado positivo da crise energética no setor industrial, é que os líderes industriais foram capazes de discernir concretamente os benefícios das energias renováveis para reduzir os custos de produção, reforçar a resiliência e maximizar os lucros”, disse o diretor de Energia da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, Tareq Emtairah.
Transportes
No setor dos transportes, os veículos elétricos e as suas infraestruturas de tarifação associadas tiveram outro ano recorde, com um crescimento de 54% em relação ao ano anterior em investimentos, especialmente na Ásia. A Índia, por exemplo, duplicou os seus gastos em veículos elétricos.
Apesar de ter tido o maior crescimento no consumo de energia, o setor dos transportes possuiu a menor utilização global de energias renováveis, representando apenas 4%.
“A eletrificação dos automóveis não reduzirá o congestionamento do tráfego, não melhorará a segurança rodoviária nem tornará a mobilidade mais acessível às pessoas. Precisamos de transportes públicos sem emissões e de infraestruturas dedicadas, incluindo caminhos-de-ferro, bem como menos carros e mais deslocações a pé e de bicicleta”, considera Mohamed Mezghani, secretário-Geral da União Internacional dos Transportes Públicos.
Agricultura
O setor agrícola assistiu à adoção de energias renováveis descentralizadas, especialmente na África, Ásia e Caraíbas.