A procura de lítio poderá crescer 15 vezes até 2030 e continuar a duplicar em cada década seguinte, avançou um novo artigo publicado por investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS ULisboa) no International Journal of Sustainable Energy.
Os cientistas alertaram para o desafio do aumento exponencial da procura global de lítio nas próximas décadas, e o papel que Portugal poderá desempenhar neste cenário. De acordo com os autores, esta tendência poderá colocar uma pressão significativa sobre os recursos naturais — a menos que sejam desenvolvidas alternativas tecnológicas e reforçados os sistemas de reciclagem de componentes das baterias.
Através de modelos que integram projeções de procura, cenários de reciclagem e alternativas tecnológicas, os investigadores demonstram que Portugal possui recursos suficientes de lítio para garantir a sua transição para a mobilidade elétrica e ainda contribuir para as necessidades europeias.
No entanto, alertam os investigadores, este potencial só se pode concretizar a partir de uma gestão responsável dos recursos, investimentos robustos em capacidade de extração e processamento, e uma forte articulação com políticas públicas, alinhadas com o Net Zero Industry Act (NZIA) e o Critical Raw Materials Act (CRMA).
Desta forma, e à medida que a produção por veículos elétricos se intensifica a nível global, a diversificação tecnológica e o reforço das práticas de reciclagem dos componentes das baterias podem reduzir, em até 40%, a pressão sobre os novos recursos de lítio, diminuindo a necessidade de extração primária.
“Mas ainda há muito trabalho a concretizar nas várias frentes”, sublinham os investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, nomeadamente no âmbito da reciclagem das baterias, dependente de vários fatores.
“Este trabalho mostra-nos que uma transição sustentável exige a coordenação entre inovação tecnológica, práticas de mineração responsáveis, políticas públicas de apoio e regulamentação robusta, de modo a garantir que o aumento da procura de lítio não compromete os objetivos ambientais”, explicou Bernardo Teixeira, um dos autores do estudo.
E continua: “o papel de Portugal vai além do mercado interno – a capacidade de o país explorar de forma responsável os seus recursos de lítio oferece uma oportunidade única para reforçar a autonomia estratégica da Europa em matérias-primas críticas e impulsionar a inovação na reciclagem de baterias e no desenvolvimento de tecnologias alternativas”.