A indústria da aviação está a “falhar drasticamente” os seus compromissos com o combate às alterações climáticas, segundo um grupo recém-formado de profissionais do setor, que defende uma “transformação profunda” na forma como o transporte aéreo opera.
O coletivo, denominado Call Aviation to Action, é composto por engenheiros, pilotos e executivos do setor aeronáutico, muitos dos quais dizem sentir-se divididos entre a paixão por voar e a crescente preocupação com o impacto ambiental da aviação.
A principal crítica do grupo passa pela forma como o modelo de negócio atual está estruturado, dependente do aumento contínuo do número de voos, assim como o “excesso de confiança” em métodos e tecnologias de redução de emissões que “ainda estão longe de ter um impacto significativo”.
“Vemos o bem que a aviação pode fazer, mas também reconhecemos que temos de reinventar a indústria para restabelecer a sua contribuição positiva para o planeta”, afirmou Karel Bockstael, cofundador do grupo.
O grupo defende que o órgão das Nações Unidas responsável pela aviação, a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO, sigla em inglês), falhou ao apresentar uma resposta eficaz e, após anos de negociações, a única medida concreta, o regime de Compensação das emissões de carbono da aviação internacional (CORSIA), é visto como insuficiente e ineficaz.
O grupo alerta que, sem uma ação urgente e concreta, as emissões da aviação podem vir a representar cerca de um quarto de todas as emissões globais até 2050. Tal cenário, dizem, vai exigir regulamentações externas mais rígidas que podem ameaçar a própria viabilidade do setor.
A organização afirma já ter reunido dezenas de profissionais do setor antes do lançamento oficial do coletivo, e apela ao envolvimento de mais trabalhadores que, segundo dizem, partilham das mesmas preocupações, mas permanecem em silêncio.
Embora a ICAO tenha afirmado estar comprometida com metas de neutralidade carbónica até 2050, muitos especialistas independentes qualificam estas intenções como “críticas e insuficientemente ambiciosas”.
Entre as propostas da Call Aviation to Action estão o estabelecimento de metas vinculativas para cortes absolutos nas emissões, redução da procura por voos, especialmente nos países mais desenvolvidos, maior equidade no acesso ao transporte aéreo e incentivos à inovação tecnológica, incluindo novas aeronaves e combustíveis zero carbono.
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