De acordo com a Agência Internacional de Energia, vão ser necessários 10.000 GWh de baterias e outras formas de armazenamento anualmente até 2040 para garantir a aceleração das estratégias de transição energética com vista à descarbonização.
Com a procura a crescer, multiplicam-se os projetos de I&D nesta área e o negócio das baterias deve atingir os 250 mil milhões de euros por ano já em 2025.
O armazenamento de energia renovável em baterias é uma peça chave para a transição energética. Atualmente, as tecnologias com maior tendência de crescimento nesta área passam pelas baterias de lítio e sódio, sendo que a maioria dos sistemas de armazenamento utiliza lítio, dadas as suas características interessantes que incluem a modularidade, a alta densidade de energia e alta eficiência de carregamento e descarregamento.
Neste caso, a necessidade de extração da matéria-prima (mineração) faz com que se esteja a trabalhar em soluções alternativas, com destaque para o armazenamento de hidrogénio e as baterias de sódio.
Outra questão importante é o ciclo de vida destas baterias, com foco na reciclagem de materiais. Dados da Global Battery Aliance apontam que 11 milhões de toneladas de baterias de lítio chegarão ao final da sua vida útil até 2030, o que está a dinamizar as possibilidades de reutilização destas baterias para a mobilidade, com utilização em veículos elétricos, potenciando a circularidade do sistema.
Portugal na primeira linha?
Portugal quer posicionar-se na I&D nesta área e a parceria europeia BATT4EU é um bom exemplo de como se pode aproveitar a oportunidade de criar valor de forma competitiva e sustentável. António Grilo, presidente da Agência Nacional de Inovação (ANI), uma das entidades que colabora nesta iniciativa, acredita no potencial de crescimento: “Com o plano de transição energética em marcha e com as ambições do REPowerEU, a União Europeia prevê que a procura de baterias cresça nos próximos anos atingindo um volume de negócios de cerca de 250 mil milhões de euros por ano em 2025. As baterias são uma parte fundamental do compromisso com a neutralidade carbónica, pelo que se torna essencial garantir a resiliência, sustentabilidade e a circularidade desta cadeia de valor”.
Mas os desafios são muitos. Desde logo o fortalecimento da cadeia de valor, desde a prospeção e exploração de matérias-primas até à reciclagem, recuperação e reutilização de baterias, mas também a necessidade de promover a cooperação ao longo da cadeia, de forma a suprir a lacuna da transferência de conhecimento da academia para as empresas.
Neste ponto, e considerando que as baterias de sódio podem ter um forte crescimento a curto prazo (a tecnologia já começa a ser produzida em grande escala na China), Portugal já está a avançar com investigação nesta área. O laboratório Colaborativo Vasco da Gama acredita que é possível concorrer com países como os Estados Unidos e China. Adélio Mendes, da Faculdade de Engenharia do Porto e líder deste CoLAB, aponta que um país como Portugal, com uma extensa costa e disponibilidade de sódio (sal) pode usar esse recurso para o desenvolvimento de tecnologias pouco maduras no mercado internacional e sem impacto ambiental.
E para os consumidores/produtores, qual é o desafio? João Amaral, country manager da Voltalia Portugal, acredita que, nesta fase, o mais importante na questão das baterias “é a proximidade do armazenamento dos cidadãos, nesta ótica de que são tendencialmente auto-produtores de energia e que podem armazená-la para utilização futura sua e da comunidade”.
Um país como Portugal, com uma extensa costa e disponibilidade de sódio (sal) pode usar esse recurso para o desenvolvimento de tecnologias pouco maduras no mercado internacional e sem impacto ambiental
Voltalia combina produção e armazenamento de energia solar
O binómio produção/armazenamento começa a crescer e a recente central da Voltalia, player internacional das energias renováveis, é um exemplo desta combinação. A sua central elétrica de Sable Blanc (Guiana Francesa) combina a produção fotovoltaica, com uma capacidade de cinco megawatt com o armazenamento em baterias, com uma capacidade de 10,6 megawatt-hora. Esta central, desenvolvida inteiramente pela Voltalia, beneficiará de um preço de venda garantido durante 20 anos e a sua capacidade de produção fotovoltaica cobrirá o equivalente às necessidades de eletricidade de 3090 habitantes da Guiana Ocidental. Neste caso, as baterias de lítio são a tecnologia escolhida: “As baterias de iões de lítio permitem injetar a eletricidade produzida durante o dia após o cair da noite, melhorando assim a estabilidade da produção de eletricidade numa região que tem uma procura elevada. Estas baterias reforçam o complexo de armazenamento de Toco, que tem agora uma capacidade de 19 megawatt e 27 megawatt-hora”, explica a Voltalia. Na Guiana Francesa, a empresa opera atualmente centrais solares, hídricas, de biomassa e de armazenamento com uma capacidade combinada de 48 megawatt, cobrindo quase 10% do consumo da rede elétrica principal.