Descarbonização

Como mitigar e adaptar face à crise climática? IPCC aponta possíveis caminhos

Como mitigar e adaptar face à crise climática? IPCC aponta possíveis caminhos

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, aponta, no Relatório Síntese do sexto ciclo de avaliação sobre a evolução do clima, que existem atualmente múltiplas opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e para a adaptação às alterações climáticas causadas pelo Homem.

“A integração de uma ação climática eficaz e equitativa não só reduzirá as perdas e os danos para a natureza e as pessoas, como também proporcionará benefícios mais amplos”, afirmou o presidente do IPCC, Hoesung Lee. “Este Relatório de Síntese sublinha a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável e habitável para todos”, aponta.

O relatório nota, por exemplo, que o acesso à energia e tecnologia limpa melhora a saúde humana, principalmente em mulheres e crianças. Outro destaque é que os benefícios económicos para a saúde da população resultantes da melhoria da qualidade do ar seriam aproximadamente iguais, ou possivelmente até maiores, do que os custos de reduzir ou evitar emissões de GEE.

Um dos autores do estudo, Matthias Garschagen, nota mesmo que “o relatório é muito importante, na medida em que já não nos limitamos a caracterizar o problema. Concentramo-nos fortemente nas soluções e no que pode ser feito com muitos instrumentos disponíveis e novas medidas disponíveis que funcionam e que foram comprovadas, aliás, muitas medidas que têm sinergias entre mitigação, adaptação e adaptação baseada em ecossistemas”.

“Por exemplo, o mesmo pântano é bom para a retenção de inundações, mas também é bom para o armazenamento de carbono, assim como para a mitigação do calor. Estas são coisas que realmente dão frutos, as soluções No Regrets, como lhes chamamos. Estas são as coisas que temos de começar a fazer. Os sistemas de proteção social são outro exemplo. São muito bons para nos ajudar com a vulnerabilidade face às alterações climáticas. Mas eles também são bons de outras maneiras.”

O relatório apresenta a seguinte imagem, onde é possível visualizar a viabilidade das opções de adaptação e mitigação atualmente existentes à escala global, assim como o contributo que as opções de mitigação para a redução das emissões:

Ao nível das soluções, o IPCC emite um alerta: o desenvolvimento da resiliência climática vai tornar-se progressivamente mais desafiante à medida que a temperatura aumenta, o que significa que as decisões tomadas nos próximos anos vão desempenhar um papel crítico no futuro.

As escolhas, para serem eficazes, segundo o relatório, vão ter de estar enraizadas nos diversos valores, visões de mundo e conhecimentos, incluindo conhecimento científico, indígena e local. Esta abordagem facilitaria o desenvolvimento de resiliência climática e permitir a alocação de soluções locais apropriadas e socialmente aceites.

Um dos autores do estudo, Christopher Trisos, aponta que “uma ação climática acelerada só se concretizará se o financiamento for multiplicado. O financiamento insuficiente e desalinhado está a travar o progresso”.

Nesse sentido, o relatório aponta que existe capital financeiro globalmente suficiente para reduzir as emissões de GEE se as barreiras existentes forem reduzidas. “Os governos, através de financiamento público e de sinais claros aos investidores, são fundamentais para reduzir estes obstáculos. Os investidores, os bancos centrais e os reguladores financeiros também podem desempenhar o seu papel”, pode ler-se.

Ultrapassar os 1,5ºC e depois baixar. É possível?

O IPCC nota que, no caso de o aquecimento exceder os 1,5ºC, poderia ser gradualmente reduzido novamente através de emissões de CO2 globais negativas. No entanto, tal requeria um investimento maior e adicional em remoção de carbono, comparado com os cenários onde tal não acontece. Aliado a isso, exceder a temperatura resultaria em impactos adversos, alguns irreversíveis, e adicionais riscos para os sistemas naturais e humanos. O relatório nota que quando maior a magnitude e duração do excesso, pior seriam esses impactos.

O Oliver Geden, do German Institute for International and Security Affairs (SWP), explica que “é muito possível que nós vamos exceder a marca dos 1,5ºC e depois, mesmo que ninguém saiba se é possível de alcançar, podemos tentar diminuir para menos de 1,5ºC novamente”.

“Teríamos mais CO2 removido da atmosfera do que o libertado. Obviamente é algo do futuro. Nós atualmente nem conseguimos reduzir as nossas emissões”, alerta.

A reação da Zero ao relatório do IPCC sobre a crise climática

A ONG portuguesa Zero já reagiu ao relatório. O presidente, Francisco Ferreira, defende que é preciso “que a União Europeia, e Portugal em particular, sejam líderes climáticos e contribuam de forma séria e coerente para nos tirar das muitas crises que enfrentamos, dando um impulso histórico e de uma vez por todas, comprometendo-se publicamente com o que todos sabem que precisa acontecer para evitar consequências ainda mais terríveis: descartar os fósseis combustíveis e protegendo as pessoas e o planeta”.

No caso de Portugal, o alerta da Zero prende-se com a necessidade de uma muito melhor gestão da procura de energia, com destaque para as medidas que proporcionem efetivamente uma redução nas emissões no transporte rodoviário individual, edifícios mais confortáveis e eficientes e investimentos em fontes de energia renovável aplicados de forma sustentável.

“A aposta não pode passar por falsas soluções, como um uso ineficiente de hidrogénio verde como alternativa ao uso de eletricidade renovável ou de investimentos que dão prioridade a soluções tecnológicas que nos distraem dos objetivos de mitigação das emissões como a captura e armazenamento de carbono (CCS), a remoção tecnológica de dióxido de carbono (CDR), ou a compensação de emissões evitáveis”, defende a Zero.

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