Descarbonização

Cenário CLEVER apresenta caminho para neutralidade climática europeia em 2045

Cenário CLEVER apresenta caminho para neutralidade climática europeia em 2045

O projeto CLEVER (Visão Colaborativa de Baixo Consumo de Energia para a Região Europeia – Collaborative Low Energy Vision for the European Region), que envolveu 26 organizações parceiras (think-tanks, organizações da sociedade civil, institutos de investigação, universidades, etc.), apresentou o relatório final e um cenário que aponta um caminho para a neutralidade climática em Portugal e na Europa, baseada no paradigma Suficiência-Eficiência-Renováveis.

Segundo explicado em comunicado, o plano desenvolvido durante quatro anos, que incluiu a portuguesa ZERO, mostra que o caminho para a descarbonização só é viável por via de uma redução e uso eficiente e parcimonioso de recursos, tanto a nível nacional como europeu, sóbrio no consumo geral de energia e materiais e na necessidade de novas infraestruturas.

Partindo do princípio da suficiência, o cenário afirma ser necessário assumir uma redução das necessidades energéticas ao que é considerado essencial para garantir um nível adequado de serviços a toda a gente, numa perspetiva de abundância frugal.

Em seguida, a suficiência é combinada com uma redução da intensidade energética por via de melhorias tecnológicas (princípio da eficiência), diminuindo assim a quantidade de energia necessária para satisfazer esse nível de serviços.

Finalmente, a procura restante de energia é suprida só por energias renováveis – a energia nuclear ou a captura e sequestro de dióxido de carbono (CO2) ficam fora da equação (princípio das energias renováveis).

“Esta metodologia contrasta com a abordagem mais tradicional adotada pela maioria dos cenários, que dá prioridade à incorporação de renováveis, nuclear e fósseis com captura e sequestro de CO2 na oferta energética, complementando-o depois com eficiência e só depois, eventualmente, considerando a suficiência como uma opção de ajustamento final”, explica a ZERO.

No cenário CLEVER, através da rápida implantação da suficiência, da eficiência e das energias renováveis o consumo de combustíveis fósseis pode diminuir o suficiente e evitar a necessidade de importações energéticas até 2050, possibilitando a Europa ser totalmente independente energeticamente antes dessa data.

Segundo explicado, a Europa, ao aproveitar o seu potencial de redução da procura de energia, pode atingir um sistema de energia 100% renovável até 2050. Para isto, basta a concretização dos objetivos de implantação de energias renováveis para 2030, não sendo preciso depender de opções de fornecimento energético arriscadas e dispendiosas, como a nova energia nuclear ou a captura e sequestro de dióxido de carbono.

Recomendações de políticas públicas sectoriais

O cenário proposto pelo CLEVER afirma ser essencial uma mudança estrutural no financiamento europeu, direcionando-o para esta transformação.

Ao nível dos edifícios, é recomendado, por exemplo, a inclusão de um imperativo ambicioso de renovação profunda na Diretiva do Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD). “A renovação profunda deve ser claramente definida, com requisitos de energia e de emissões de gases com efeito de estufa (através do indicador de emissões ao longo de todo o ciclo de vida) com base no objetivo de alcançar edifícios com emissões zero líquidas o mais rapidamente possível”, explica o cenário.

Já nos transportes, considera-se necessário, em primeiro lugar e sobretudo, apoiar medidas e infraestruturas que permitam aos cidadãos europeus viver estilos de vida menos intensivos em energia e em deslocações. Depois, também é preciso tornar a mobilidade acessível a todos, desenvolver a rede, introduzir políticas discais, regulamentar os modos de transportes não sustentáveis, entre outras recomendações.

Finalmente, na indústria, explica-se, por exemplo, que a aplicação do princípio dos 3R deve ser maximizada para todos os produtos: Reutilização, Reparação e Reciclagem.  Deve ser ainda financiado um impulso à eficiência energética e à substituição tecnológica nos principais setores industriais europeus, como o aço, o cimento e os produtos químicos, com destaque para as tecnologias maduras e prontas a serem alargadas, nomeadamente, a eletrificação direta para ganhos de eficiência energética e a utilização de hidrogénio verde nos processos industriais que mais necessitam dele – esta deve ser a prioridade na utilização do hidrogénio.

Os apelos dados

No entender da ZERO, a Comissão Europeia deve integrar explicitamente a suficiência na sua modelação e nos seus pressupostos, não apenas como uma medida de ajustamento a curto prazo, mas como uma alavanca em sinergia com a eficiência e as energias renováveis nos vários sectores – edifícios, transportes, indústria, mas também materiais, alimentação e agricultura.

Já ao nível nacional, a ZERO apela a que seja integrado o critério da suficiência no trabalho de modelação subjacentes ao Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), como forma de alcançar a neutralidade climática no país até 2045, ou mesmo como (única) forma de a viabilizar até 2040.

 

 

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