Transição Energética

Energy as a service: trabalhar a eficiência e sustentabilidade

Energy as a service: trabalhar a eficiência e sustentabilidade

Depois do SaaS, está a chegar a EaaS: A ‘nova’ transformação do setor da energia. E sobre este tema, João Guerra, Director Marketing Communication da Helexia, esteve à conversa com a Sustentável descortinando o que é o Energy as a Service. Lembrando o percurso feito também pelas empresas no carro oferecido aos colaboradores, o responsável da Helexia frisa que é preciso alguma ‘doutrinação’ para esta mudança de hábitos. Advogando as vantagens do EaaS, Guerra dá-nos ainda a conhecer um caso prático onde a opção por este serviço permite poupanças significativas, financeiras e ambientais.

 

Explique-nos como funciona o Energy as a Service (EaaS). Como surgiu, quais os benefícios e onde pode ser aplicado com maior eficiência?
De uma forma simples, com o Energy as a Service não estamos a vender energia, estamos a disponibilizar um serviço com garantia de índices de performance e eficiência. Tipicamente, os sistemas que são visados neste tipo de serviço são sistemas que representam uma parte substancial dos consumos energéticos. Estamos a falar de climatização, de aquecimento de águas sanitárias e iluminação. Normalmente, os clientes que são abordados para este tipo de serviço, são edifícios de serviços, de grande dimensão, lojas, centros comerciais ou hotéis. Obviamente também podemos aplicar esta tipologia de serviço à indústria, mas é mais difícil. Enquanto nesta tipologia que falei, o edificado vive muito do conforto das pessoas que frequentam o espaço, o projeto torna-se mais exequível. A climatização, iluminação, aquecimento e arrefecimento de águas, tem um papel preponderante na sua operação.

Conseguimos ter uma noção média de qual é o custo da fatura associada a esses fatores nos custos totais dessa operação?
Normalmente representa 20% dos custos totais. Estamos a falar de médias. Mas, quando estamos a construir o edifício, o custo é superior, devido ao custo dos equipamentos. Estamos a falar de ar condicionado, tubagens, iluminação… aí, o custo de investimento, o Capex, é superior, mas depois em termos de operação representa algo em torno dos 20%.

Enquanto prestadores deste serviço de EaaS, retiram este custo a quem quer fazer o investimento para gestão da infraestrutura?
A resposta direta é sim. Mas retiramos muito mais que apenas o custo de investimento. Retiramos toda a dor de cabeça que é desenhar a solução. Muitas vezes quem constrói o edifício quer construir o mais barato possível, portanto acaba por optar por equipamentos que se calhar não têm a melhor qualidade e prestação, e a escolha dos equipamentos é essencial para termos melhores resultados. A implementação dos equipamentos e também toda a parte de gestão e operação torna-se mais fácil. Como ficamos com a parte de gestão e operação, estamos a financiar a solução, e damos garantias de índices de performance, também estamos a correr risco. Assim, seria impensável colocar equipamentos que não tivessem qualidade. Isto também é uma mais-valia para o cliente, que sabe que tem um equipamento que é bom e que ao mesmo tempo vai estar a cumprir tudo o que são manutenções preventivas. Como estamos comprometidos com a garantia de serviço, disponibilidade, conforto, temos de garantir que o serviço funciona bem. No fundo é isso que o cliente está a pagar. Não está a pagar pela energia, mas pela solução como um todo e pela disponibilidade de serviço.

Também fornecem a energia?
Aqui depende um pouco do projeto. Pode haver edifícios em que se comporta a parte de autoconsumo solar, e sim, a componente de energia também entra na proposta. Se estivermos a falar de um hotel ele pode já ter a sua instalação, ou se for um hotel de cidade pode não ter espaço para implementar autoconsumo solar. Porquê? Porque tipicamente a cobertura dos hotéis está ocupada com outro tipo de equipamentos e pode não haver espaço para colocar autoconsumo solar. Sempre que for um projeto que comporta espaço para que seja posta uma solução de autoconsumo, aí sim, podemos também contribuir com essa vertente. As soluções são altamente customizáveis.

Não é um modelo típico…
Sim… num modelo típico o cliente compra os equipamentos, monta os equipamentos, mas não sabe como aquilo está a ser operado. Pode ter manutenção própria, ou externa, pode estar a ser cumprida ou não… aqui tem-se garantia da qualidade dos equipamentos, serviço e com bons equipamentos. O cliente fica também com um parceiro ao seu lado, que financiou e colocou o projeto em prática. Obviamente há também um acordo quanto aos níveis de serviço. Sempre que somos investidores, queremos que a instalação tenha os rácios máximos de produção. Esse é também o nosso retorno de investimento. Podemos fazer um autoconsumo solar em que não somos investidores. Esse é um modelo de venda. O cliente do outro lado decide onde e com quem quer fazer a manutenção. Se o fizer connosco, obviamente também podemos dar garantias de índice de performance. Quando somos investidores essas garantias de performance já vêm de base.

Como surge agora este investimento da vossa parte na EaaS? É uma evolução natural de mercado, uma tendência ou uma solução que já tinham identificado e que tiveram de incrementar?
É algo que já vem de outros setores. O mais normal é o software. Antigamente comprava-se o software. Hoje utiliza-se muito o software sem o comprar, sem o instalar, ele está na cloud, compramos a licença de utilização e temos uma série de garantias. Não temos de nos preocupar com updates, espaço no disco, etc… Por outro lado, sabemos que o que colocamos lá pode ser acedido por vários dispositivos. O EaaS vem beber um pouco esse conceito em que para colocar todos os equipamentos que precisamos para operar estamos a pagar, mas não pela energia, só pelo serviço. Isto engloba ou não o consumo energético. Porque é isto interessante para nós? É interessante porque acabamos por tornar-nos num parceiro-chave dentro do negócio do cliente. A relação que mantemos com o cliente é uma relação muito mais aprimorada. O que estamos a vender faz parte também do que o cliente está a vender ao seu cliente. Se estivermos a falar de um hotel, o conforto é também o que o hotel está a vender aos seus visitantes. Um hotel que tem uma climatização bem feita, em que entramos e temos uma temperatura agradável, isso é core para o negócio do hotel. Nós estarmos envolvidos nesse processo é muito interessante.

Porque é que um cliente deve apostar neste serviço e em que condições?
Nós temos várias tipologias de cliente indicado. Temos hotéis mais pequenos, tipo boutique hotel, temos também hotéis com mais quartos. Temos de olhar caso a caso, porque o investimento tem de ser interessante para ambas as partes. Porque é que é interessante para o hotel? Porque não tem de fazer o investimento. Há duas fases em que é interessante fazer isto: quando o hotel está em construção ou em reabilitação profunda. Porquê? Porque mudar o ar condicionado, equipamentos de águas sanitárias, etc, não pode ser feito em qualquer altura. Ou o fazemos numa fase em que o projeto está a ser desenvolvido ou quando vamos reabilitar um edifício e fazer uma intervenção profunda. É interessante para o cliente porque se for numa fase inicial ou numa fase de retrofit profundo, tem sempre de decidir se põe o seu capital ou se opta por uma solução EaaS. O cliente pode tirar o ónus de aplicação do capital em equipamentos, tubagens, tudo o que é necessário, e ficar com esse capital para aplicar no negócio core que é receber as pessoas. Por outro lado, tira ao cliente todo o ónus de manutenção, que é uma grande dor de cabeça. Não é só instalar, mas depois todo o ónus da operação também desaparece. Essas são as grandes vantagens que o cliente tem.

“O cliente pode tirar o ónus de aplicação do capital em equipamentos, tubagens, tudo o que é necessário, e ficar com esse capital para aplicar no negócio core”
João Guerra – Helexia Portugal

Esta gestão dos equipamentos é centralizada?
Tem de haver sensorização e há uma gestão de energia para percebermos como é que os equipamentos estão a funcionar, onde está a ser consumida energia… Isto acaba por ajudar muito na implementação de medidas de eficiência energética. Como acompanhamos, estamos a medir, a obter dados, e esses dados podem ser trabalhados para uma melhoria continua do projeto, é uma vantagem. Todos os dados estão centralizados.

O cliente consegue acompanhar essa gestão?
O cliente tem de estar sempre envolvido e, claro, tem acesso a todos os dados. Estamos a falar de disponibilidade e garantia de serviço, tudo tem de ser contratualizado e acompanhado. O cliente está sempre a par de tudo. Isto acaba também por ter muita inteligência envolvida. É completamente diferente termos um espaço onde estão 20 pessoas de outro em que temos 50 pessoas. Todas estas variáveis também têm de ser afinadas e o próprio sistema tem de adaptar-se e ir medindo as condições que estão a ocorrer no momento. É como o período do dia. É completamente diferente climatizar de manhã, à tarde e à noite. Toda esta sensorização e inteligência também faz parte do serviço.

Qual é, então, a desvantagem da EaaS?
Eu acho que não há desvantagem. Às vezes pode haver barreiras. Às vezes temos medo de abdicar da sensação de ‘isto é meu’. Aqui passamos o ownership deste tipo de equipamentos para fora. É um pouco isto. Antigamente, quando a empresa dava um carro a um colaborador, a empresa comprava o carro e este era um ativo da empresa. Hoje as empresas já não compram carros. Têm um sistema de renting. Mas tivemos de explicar muito bem quais eram as vantagens do renting, os benefícios fiscais, uma série de coisas, até as empresas perceberem que é uma solução que faz sentido. Aqui, com a EaaS, trata-se da mesma coisa. É um conceito novo, por isso temos de explicar o que é o conceito e quais são as vantagens. Tipicamente as pessoas ideais para discutir isto, não são as equipas de manutenção, que devem estar envolvidas, mas mais o departamento financeiro. A questão fica, quanto nos custa fazer isto vs quanto custa optar por uma solução EaaS.

Qual a duração típica de um contrato destes?
Normalmente entre cinco e dez anos. O contrato tem um conjunto de cláusulas de acordo com a especificidade do cliente.

No final do contrato, se cliente opta por ficar com o equipamento e ter a sua gestão. Como se resolve?
Os equipamentos são entregues com garantia. Pode haver substituição no final do contrato. A instalação, no final do contrato, passa para o cliente ou pode ser renovado o serviço se fizer sentido.

O caso de hotel de luxo em Lisboa

Descarbonizar o turismo

Optar por um projeto de EaaS pode trazer significativas poupanças financeiras, mas também ambientais. No caso que trazemos de seguida, o projeto desenvolvido pela Helexia Portugal permitiu aumentar a eficiência energética, reduzindo consumos energéticos e, consequentemente, reduzindo custos, com o grande benefício a ser verificado na diminuição das emissões de CO2.
O espaço em causa é um hotel de 5 estrelas, em Lisboa, com mais de 40 anos de operação. Em termos de área, disponibiliza 300 quartos, várias salas de reunião, bem como um espaço para eventos que tem capacidade para receber 750 pessoas.
Além destes pontos, o espaço turístico disponibiliza ainda aos seus visitantes uma piscina aquecida com 90m3 de água, dispondo igualmente de uma área de lavandaria para dar suporte à operação do hotel.
Por forma a proporcionar um ambiente interno confortável, o hotel utiliza um sistema de AVAC centralizado que controla a temperatura, a humidade e a qualidade do ar do edifício.

Quais as necessidades?

Após análise, foram propostas diversas medidas, com foco nos vários sistemas: centrais de águas geladas; aproveitamento de energia térmica; retrofit de sistema AVAC e AQS; produção de energia solar e substituição de caldeiras a gás por caldeiras elétricas. Com as necessidades identificadas, partiu-se para a fase de desenho do projeto. No somatório das várias medidas sugeridas, percebeu-se que estas levariam a uma poupança de 26% da fatura de energia, obtendo-se uma redução de 47% no consumo de gás natural e 4% de redução de energia elétrica. Em termos de emissões de CO2, com o total das medidas propostas aplicadas, seria possível concretizar uma redução de 28%, evitando-se a produção 803 toneladas de CO2. O equivalente a plantar 50.000 árvores por ano.

A par da intervenção na infraestrutura de utilidades foi também proposto:

  • Instalação de um Dry Heater, permitindo a produção de água quente durante todo o ano pela Bomba de Calor, o que garante uma maximização da redução no consumo de gás natural
  • Separação de regime de produção e utilização de água quente em: AQS mantido a 80ºC (para evitar Legionella); aquecimento do AVAC, piscinas, lavandaria e restantes usos a uma temperatura de 60ºC.
  • Substituição de uma das caldeiras de água quente existente, garantindo desta forma a redução do consumo de gás natural para a parcela de produção de água quente a 60ºC para 80ºC do AQS e não atendida pela Bomba de Calor; permanecendo a 2ª caldeira de água quente como backup de todo o sistema
  • Instalação de sistema de recuperação de calor residual do vapor flash e gases da caldeira
Expectativa de Resultados

A implementação do projeto leva uma redução de 26% em termos de consumo energético, com a energia total poupada, entre energia elétrica e gás natural, a permitir uma redução de 2.425MWh/ano.

O projeto tem um custo estimado de investimento inicial de 630.000, permitindo, através do EaaS uma poupança de € 325.000 €/ano com um payback simples a 2 anos.
Em termos de emissões, o sistema implementado no hotel produzia 1.809 Ton CO2/ano, passando com o EaaS da Helexia Portugal a 1.306 Ton CO2/ano, o equivalente a uma redução de 503 Ton CO2/ano, ou seja, um corte de 28% nas emissões geradas pela operação da unidade hoteleira.

 

Esta rubrica tem o apoio de Helexia

 

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